A Ceia dos Acusados (The Thin Man – 1934)
A Comédia dos Acusados (After The Thin Man – 1936)
Uma das minhas lembranças mais agradáveis envolvendo a época
do Natal foi quando preparei uma maratona caseira com os seis filmes da série,
material que era impossível de encontrar em VHS, mas que consegui nos primeiros
anos de garimpo na internet. Na época, minha única preocupação era a escola,
aproveitava cada segundo das férias com cinema em casa e livros. Eu ainda não
havia lido nada de Dashiell Hammett, mas já tinha lido sobre a adaptação de sua
obra mais leve, “The Thin Man”, uma mistura deliciosa de suspense detetivesco
com screwball comedy. E, claro, a presença de uma das minhas musas cinematográficas
mais queridas, Myrna Loy, interpretando Nora Charles, ajudou a intensificar o
desejo de ter contato com estas produções. Ela não era só linda, sensual e
charmosa, também exalava intelectualidade, em suma, irresistível. William Powell,
que vive Nick Charles, é bem diferente do tipo descrito no livro, não é
decadente, nem está fora de forma, mas como só li a obra mais tarde, não me
incomodou. Vale ressaltar que “thin man” (magro) se refere à vítima do
assassino, já li muitas críticas brasileiras que ligam o título ao
protagonista. É impossível enxergar outro ator no papel, o domínio de cena, o
timing cômico, a maneira como ele defende o texto, a química matadora com Loy.
O
caso a ser resolvido nunca faz sombra ao show da dupla nos momentos mais comuns,
tentar acompanhar as reviravoltas é pedir para ficar confuso, o desenvolvimento
é problemático, sendo bastante sincero, as tramas dos seis filmes se misturam
em minha mente, não há nada especialmente interessante nas investigações. A
maneira como o casal interage de forma desaforada é que engrandece o resultado.
É como Nick explica logo na primeira cena do primeiro filme, mostrando para um atendente
do bar como preparar melhor a bebida com a coqueteleira: “O mais importante é o
ritmo”. O crime a ser resolvido é apenas a moldura para situações de
cumplicidade encantadora. Ele, um detetive aposentado bon vivant que vive sob o
efeito do uísque, trata sua profissão como algo comum, sem encanto. Ela,
refinada dama da alta sociedade, fascinada pela aventura e pelo perigo, gosta
de ser uma espécie de “Watson” na vida de seu marido. Entre eles, Asta, um
adorável e ciumento fox terrier. Os dois primeiros filmes são os melhores, mas
recomendo que todos sejam vistos em ordem cronológica.
“A Ceia dos Acusados” foi
filmado em apenas dezesseis dias, mérito do milagreiro diretor W.S. Van Dyke,
de “Tarzan – O Homem Macaco”, que gostava de fazer poucos takes, o que explica
o feeling espontâneo no set, algo que ajudou bastante na equação de sucesso da
obra. Ele também foi o responsável por direcionar o foco dos roteiristas Frances
Goodrich e Albert Hackett, casados na vida real, ao relacionamento do casal,
deixando o mistério policial em segundo plano, atitude que não foi bem recebida
pelos executivos da MGM. E pensar que já li um famoso crítico brasileiro se
referir ao W.S. Van Dyke como “medíocre”. O sucesso inesperado de público garantiu
a continuação com orçamento triplicado, “A Comédia dos Acusados”, título
nacional horroroso, que traz um jovem James Stewart em um papel desafiador. Hammett
foi contratado para escrever uma nova trama, a troca de farpas do casal é ainda
mais hilária, até Asta recebe mais atenção, protegendo sua esposa canina dos
galanteios de um cão vizinho. O filme foi um sucesso, o roteiro foi indicado ao
Oscar.
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