China O'Brien - A Herdeira do Dragão (China O'Brien - 1988)
China O'Brien 2 (1990)
O cinema oriental de artes marciais consagrou várias
mulheres ao longo das décadas, mas no ocidente apenas uma conseguiu se provar
rentável nas bilheterias: Cynthia Rothrock. E ela, baixinha e de aspecto meigo,
meteu o pé na porta da indústria no momento em que os heróis de ação
norte-americanos representavam o auge do fisiculturismo. Vale salientar também
que, ao contrário de suas imitadoras, ela não ligava sua imagem cinematográfica
à sensualidade, o seu desejo era, como professora de karatê na vida real, criar
uma persona nas telas que inspirasse as meninas. Como comparação, analise a
forma como Ronda Rousey é trabalhada nas cenas de suas produções, as
coreografias dos filmes protagonizados por Mimi Lesseos, ou a personagem de
Kathy Long em “The Stranger”, pura satisfação de fetiche masculino, com as
curvas do corpo realçadas pelo figurino e pelos ângulos da câmera.
Infelizmente, Rothrock é pouco lembrada hoje em dia, não
participou de obras especialmente importantes, mas registrou seu “chute do
escorpião” (quando ela neutraliza o oponente que a agarrou por trás chutando
acima de sua cabeça e diretamente em seu rosto) em várias pérolas de baixo
orçamento que faziam a festa da garotada nas locadoras de vídeo. Ela chamou
atenção inicialmente em produções de Hong Kong, foi parceira de Michelle Yeoh
no bom “Justiça em Dose Dupla”, de 1985, mas seu grande momento solo foi em “China
O’Brien”, para o estúdio Golden Harvest. Quem jogava “Streets of Rage” no Sega
Genesis vai perceber a clara inspiração para a estética do jogo, o trio de
heróis formado por Rothrock, Richard Norton e Keith Cooke (que faria alguns anos
depois o Reptile em “Mortal Kombat”) é propositalmente uma caricatura pueril,
são tipos carismáticos que caberiam perfeitamente nas páginas dos quadrinhos
infanto-juvenis. A policial China (inspirada na história real do corajoso xerife
Buford Pusser, que, sozinho, decidiu limpar sua cidade da máfia) jura não utilizar
mais armas de fogo após atirar em um marginal adolescente. O enigmático Dakota
(Cooke), com aparência de índio e uma mão imobilizada, exibe um estilo de luta
mais acrobático e busca vingança contra o chefão da região, que matou sua mãe.
Matt (Norton), namorado de China, tem um estilo de luta altamente teatral,
sendo capaz de desferir cinco socos no rosto da vítima em poucos segundos.
A direção dos dois filmes é de Robert Clouse, responsável por
“Operação Dragão”, o clássico de Bruce Lee. Os roteiros são simplórios, as coreografias
são empolgantes, acho curioso que no final dos dois, os vilões principais não
enfrentam a protagonista, algo nada usual no gênero, eles são assassinados por mulheres fragilizadas, aquelas
que sofriam diretamente com suas atitudes. A personagem de Rothrock age como elemento transformador de inspiração, modificando o ambiente em que vive e, de forma indireta, resgatando o amor próprio daquelas que haviam sido subjugadas.
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