Na Mira do Atirador (The Wall - 2017)
Com esta pérola ambientada em 2007, na fase crepuscular da
guerra do Iraque, Doug Liman prova que é um dos mais competentes cineastas em
atividade, construindo tensão utilizando espaço cênico reduzido, a parede em
ruínas que serve como proteção, apenas dois atores e um terceiro personagem que
se comunica por rádio. E considerando que o soldado vivido por John Cena é abatido
logo nos primeiros minutos, o roteiro de Dwain Worrell tem o desafio de prender
nossa atenção por oitenta minutos, sem apelar uma única vez para recursos convencionais
como flashbacks ou trilha sonora emotiva, apoiando toda a carga dramática nos
ombros de Aaron Taylor-Johnson, excelente ao transmitir, entre uma teatral exibição
de bravata patriótica e outra, a fragilidade inerente à motivação de sua presença
naquele inferno.
Como todo bom filme de guerra, o interesse maior está em
evidenciar quão estúpida e sem sentido é aquela realidade. Apesar do péssimo
título em português, simplificação que, como sempre afirmo, ressalta o baixo
nível educacional do brasileiro, a mensagem poderosa reside na metáfora da
parede que separa o soldado norte-americano e o atirador de elite iraquiano (voz
de Laith Nakli), a incapacidade de um compreender o outro, os olhares turvos
pelo véu de manipulação doentia e gananciosa que os posicionou naquela situação.
“Irônico, a mesma parede que seu país veio destruir, agora você tenta a todo
custo evitar que caia. Esta parede em que você se esconde já foi uma escola. ” O
diálogo sintetiza a riqueza crítica do texto, algo pouco usual em obras do
gênero, quase sempre movidas pela construção de cenas de ação progressivamente
mais empolgantes. Em “Na Mira do Atirador”, o estímulo intelectual é mais
contundente que qualquer explosão.
A voz tranquila do caçador que demonstra conhecer mais sobre
a cultura norte-americana do que aquele que teoricamente está lá para defender
a pátria, a opção consciente por tomadas longas que intensificam a sensação de
frustração crescente da vítima, a fotografia bruta de Roman Vasyanov emulando o
torpor causado pela exposição ao sol ardente do deserto, elementos que engrandecem
o resultado.
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