Em Ritmo de Fuga (Baby Driver - 2017)
Analisando unicamente a trama, “Em Ritmo de Fuga” não traz
nada novo, ou especialmente interessante, não é esta a proposta. É em essência,
algo explícito já na arte do pôster, uma nostálgica homenagem a filmes e
videogames em que o automóvel é figura central, como “Driver”, “Grand Theft
Auto”, “Operação França” (1971), “Mad Max” (1979), “Bullitt” (1968), “The
Driver” (1978), “The Blues Brothers” (1980) e ao gênero de filmes de assaltos.
O jovem protagonista, Baby, vivido por Ansel Elgort, sofreu
um acidente de carro na infância que o deixou com um zumbido permanente no
ouvido, problema que ele ameniza escutando música o tempo todo. Ele trabalha
para um gângster como motorista de fuga, com uma frieza impressionante, não há emboscada
que ele não consiga reverter com as mãos firmes no volante e a canção certa
tocando no iPod. Os tipos criminosos que ele ajuda são caricaturas hilárias de
personagens durões do cinema dos anos oitenta, com destaque para Jamie Foxx e
Jon Hamm. O chefe do bando, mais uma aula minimalista de Kevin Spacey, pensa
controlar o rapaz, mas, na realidade, faz parte dos experimentos das fitas de
remixes preparadas por Baby, que, ao registrar secretamente diálogos comuns,
frases simplórias, cria música a partir do cotidiano, tentando trazer ordem ao
caos. Como ele se sente culpado por não ter podido fazer nada para salvar os
pais na infância, ele conquista algum conforto nesta despretensiosa alquimia
sonora. Quando o amor de uma garçonete, bela Lily James, apresenta novas
possibilidades, ele começa a repensar suas escolhas perigosas.
A genialidade do filme está na forma como a trilha sonora
exerce papel fundamental em cada cena, nos momentos grandiosos e naqueles
aparentemente irrelevantes. O próprio título do filme faz referência a uma canção
de Simon and Garfunkel. O som é o coração pulsante da obra, todas as decisões
criativas da direção são pensadas como coreografia musical, cada freada do
carro sincronizada com a batida, o ritmo dos tiros disparados em uma sequência
frenética rima com a trilha, o gestual de um personagem está em harmonia com a letra,
o movimento dos corpos responde diretamente ao estímulo sonoro, enfim, um
trabalho minucioso e esteticamente muito original.
Edgar Wright é um diretor muito competente por entender que
a montagem, até mesmo o enquadramento, podem servir à comédia, ele não fica
refém do texto. Ao administrar com inteligência este aspecto ele consegue, como
um maestro de orquestra, manipular o ritmo e evoluir a narrativa sem recorrer à
diálogos expositivos, criando uma linguagem própria altamente intuitiva e
universalmente compreensível.
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