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Rambo 3 (1988)
A minha relação com esse filme é anterior ao conhecimento
que tive sobre os dois primeiros, quando eu já visitava semanalmente a videolocadora,
minha primeira lembrança de “Rambo 3” é ambientada na minha primeira infância,
Classe de Alfabetização no Jardim Escola Menino Jesus de Praga, que ficava na
Tijuca, época em que eu apenas brincava de massinha colorida na sala de aula e
torcia pro meu pai não ter esquecido de gravar a transmissão diária de Jaspion
na TV Manchete. A sala de entrada da escola, onde nós deixávamos nossas
pequenas mochilas e lancheiras penduradas em ganchos na parede, ao lado da
escada que nos conduzia às salas, era o espaço em que brincávamos na hora do
recreio, tinha uma vitrola e vários discos, quase todos direcionados para o
público infantil. Eu disse: quase todos. Até hoje não entendo o motivo, mas
entre os discos da Xuxa e do Trem da Alegria havia a trilha sonora de “Rambo 3”,
com o Stallone e um helicóptero na capa, algo bem chamativo para alguém que já
estava começando a se interessar por filmes. Gosto de pensar que é minha
contraparte do futuro que voltou no tempo e deixou esse easter egg lá. O disco
nunca foi escutado, algo compreensível, mas que aguçava ainda mais a minha
curiosidade. Anos depois, como presente de aniversário, meu tio paterno Jorge
Ricardo, também um apaixonado por cinema, acabou me dando esse LP, que guardo com
carinho até hoje. O fato é que, por pior que seja o filme, não há como negar
seus vários problemas, eu tenho uma forte conexão emocional com ele.
Apesar de todos os furos de roteiro, a produção tem méritos
na parte visual, até pela ambição corajosa de emular “Lawrence da Arábia”.
Michael Stevenson, assistente de direção, trabalhou no clássico de David Lean. A
direção inicialmente seria de Russell Mulcahy, que havia feito “Highlander – O Guerreiro
Imortal”, mas após duas semanas de muitos conflitos com o protagonista, ele foi
substituído por Peter MacDonald, que tinha experiência como diretor de segunda
unidade de filmes como “Excalibur” e “Star Wars - O Império Contra-Ataca”, e
estava escalado na produção para exercer a mesma função, mas foi catapultado
para a ponte de comando. Ele não levava a sério o personagem, alguém capaz de
derrubar um helicóptero com um arco e flecha, então tentou injetar humor em
algumas cenas, pra desgosto de Stallone. Foi dele a ideia de inserir uma
sequência que mostrasse Rambo, o guerrilheiro monástico, tentando se recuperar
de algum dano, já que o herói havia metralhado dois estádios de futebol lotados
sem levar um arranhão, o que o diretor considerava mais tolo do que a violência
das revistas em quadrinhos, uma sugestão que conduziu à clássica cena em que
ele cauteriza com pólvora um ferimento na barriga. Mas realismo só foi o foco no primeiro filme, o segundo já
dava uma pirueta no politicamente correto, com vietnamitas explodindo a torto e
a direito, o terceiro apenas se manteve fiel à lógica que rege a possibilidade
de um halterofilista sozinho enfrentar vários exércitos e não perder sequer uma
perna em combate. Richard Crenna, o abnegado coronel Trautman, que se manteve
lúcido e sensato até aquele momento, decide partir pra pancadaria, acaba
virando refém dos russos, o gatilho que faz o herói abandonar seu repouso na
Tailândia e entrar de cabeça no conflito dos rebeldes afegãos.
Gosto bastante
da sequência em que Stallone, pela primeira vez, entende o peso emocional da
guerra desigual contra aquele povo, o silêncio dominando a cena. E minha
contraparte infantil vibrava quando a cavalaria afegã chegava para ajudar Rambo
e Trautman no combate final. Quando Rambo, emocionado com o retorno dos amigos,
recarrega sua metralhadora e salta da trincheira improvisada, com sangue nos
olhos, na frente de um tanque e um helicóptero, aquele menino de oito anos que
usou bandana vermelha e camuflagem dos “Comandos em Ação” em sua festinha de
aniversário puxou grito de guerra e metralhou junto. Essa magia lúdica morreu
com a minha geração, as pobres crianças de hoje são presenteadas com “Peppa Pig”
e trenzinhos falantes.
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