1 - Meia-Noite em Paris (Midnight in Paris), de Woody Allen
"... Woody, demonstrando uma fascinante lucidez, desconstruiu o senso
nostálgico que embeleza tudo o que toca, evocando elementos da ficção científica, com uma ternura encantadora que me remeteu ao seu "A Rosa Púrpura do Cairo". Ao optar por fazer a viagem no tempo executada pelo protagonista representar a constatação de que o passado, por mais fascinante que seja, não era tão perfeito como ele havia idealizado, o roteiro evidencia a importância do indivíduo buscar a satisfação plena em sua própria realidade. Uma visão madura e emocionante de um cineasta que se recusa a abraçar o conformismo criativo..."
2 - A Pele Que Habito (La Piel Que Habito), de Pedro Almodóvar
"... Uma homenagem ao clássico "Os Olhos Sem Rosto", de Georges Franju. Quando o personagem vivido por Antonio Banderas adentra sua
mansão, ocorre algo imperceptível aos olhos do cinéfilo menos atento: ele se
encaminha para o quarto da vítima, porém rapidamente rejeita tal escolha,
analogamente uma rejeição à sua condição natural, e segue para o quarto ao
lado, onde continua a espioná-lo pela câmera. Outro exemplo de que nada é por
acaso em obras de qualidade: a câmera segue a mão de Banderas, que pega um
controle remoto num criado-mudo. O momento dura frações de segundo, mas ao lado
do controle encontra-se um livro coerente à abordagem do diretor: “O Gene
Egoísta” de Richard Dawkins, que apresenta uma teoria que explica a evolução
das espécies na perspectiva do gene e não do organismo, renovando o Darwinismo, que vê os genes como simples veículos através dos quais os
organismos se reproduzem..."
3 - Cisne Negro (Black Swan), de Darren Aronofsky
"... A protagonista valida o conceito freudiano da projeção,
inconscientemente atribuindo características negativas de sua própria personalidade
a outros personagens, especialmente Lily e sua mãe, que acredito ser uma
criação de sua mente. No dia de sua consagração, totalmente livre e
confiante, “mata” sua projeção, simbolizada por Lily, e alcança a perfeição no
palco ao transformar-se no “Cisne Negro”, recebendo empolgada ovação da plateia
que grita seu nome. “Matando” sua projeção, “mata” a si mesma, encerrando a
obra de forma genial. Em minha interpretação ela não morreu, mas sim aquela sua
versão insegura de outrora, que vivia sob uma constante pressão da “mãe”. Seu
colapso mental vai se intensificando com o tempo, os arranhões nas costas, cada
vez maiores, terminando por “matar” sua sanidade, sacrificada em
prol de uma perfeição ilusória, em nome da arte..."
4 - Bravura Indômita (True Grit), de Ethan e Joel Coen
"... A beleza da trama reside exatamente na progressiva
transformação interna do pistoleiro, cada vez mais admirando a impetuosidade
inconsequente daquela que aprende que deve proteger. Ele tentou afastá-la de
todas as formas, mas acabou encontrando na bravura dela a sua última chance de
redenção. Bridges trabalha esta dualidade com excelência, deixando transparecer
sutilmente o carinho que passa a sentir por aquela que o desafiava. O conflito
não consiste na caçada pelo assassino Tom Chaney (Josh Brolin), mas no
desesperado desejo de Rooster em se mostrar vivo perante aquela que depositou
confiança em sua competência. Ele sabe que está fora de forma, extremamente
cansado e que provavelmente ninguém no futuro lembrará seu nome, mas mesmo
assim encara o perigo de frente. A bravura do velho pistoleiro gravaria um
legado eterno no caráter da jovem, que aprende que o sabor da vingança é
amargo, uma cicatriz que se carrega pelo resto da vida..."
5 - A Falta Que Nos Move, de Christiane Jatahy
"... A melhor forma de assistir essa desconhecida
obra-prima é adentrar na casa junto com os atores, sem conhecer o truque, por
essa razão evitarei comentar muito sobre o que ocorre. O mérito maior da equipe
foi ter construído um produto que não perde valor enquanto mágica revelada,
somente instiga ainda mais, levando-nos a procurar entender que aquele
microcosmo reflete perfeitamente o macro. O choque de constatar que somos todos
atores em tempo integral, seguindo mediante a aceitação de nossas fragilidades
e frustrações, aprendendo a lidar com a inexorável aproximação do fim. Somos
parte de uma experiência, independente que a façamos ser prazerosa ou plena em
autocomiseração, escolhemos rotas conforme os limites da estrada nos são
revelados..."
6 - Namorados Para Sempre (Blue Valentine), de Derek Cianfrance
"... Prejudicado no Brasil por um título equivocado que vende a antítese do que o roteiro oferece, o filme provavelmente ganhará maior reconhecimento em longo prazo. Poucas vezes o cinema retratou com tanta honestidade, de forma brutalmente comovente, o triste momento em que os laços de carinho e respeito se desfazem em um relacionamento amoroso..."
"... Prejudicado no Brasil por um título equivocado que vende a antítese do que o roteiro oferece, o filme provavelmente ganhará maior reconhecimento em longo prazo. Poucas vezes o cinema retratou com tanta honestidade, de forma brutalmente comovente, o triste momento em que os laços de carinho e respeito se desfazem em um relacionamento amoroso..."
7 - Margin Call - O Dia Antes do Fim (Margin Call), de J.C. Chandor
"... Uma experiência claustrofóbica sustentada por um elenco
afinado, um raro roteiro direcionado para o público adulto. Escolhendo focar no ser humano e nas emoções, ao invés de jogar
luz nos aspectos burocráticos que conduziram ao colapso financeiro da trama, o
roteiro consegue soar universal e atemporal..."
8 - Medianeras - Buenos Aires da Era do Amor Virtual (Medianeras), de Gustavo Taretto
"... A importância de quebrar as barreiras que separam indivíduos em uma metrópole, obstáculos que conduzem o espectador a torcer para que os dois solitários se encontrem. A atuação do casal e a ousadia do diretor no terceiro ato fazem com que
o filme seja um oásis perdido no meio de um deserto de marasmo no
gênero..."
9 - A Árvore do Amor (Shan Zha Shu Zhi Lian) de Zhang Yimou
"... É inegável se tratar de um filme previsível e manipulador, um clássico tearjerker que nos remete a "Love Story" e tantos outros similares.
Mas é impossível evitar se apaixonar pela forma sensível como o relacionamento do casal é retratado, impossível não se encantar com o refinamento de Yimou..."
10 - Balada do Amor e do Ódio (Balada Triste de Trompeta), de Álex de la Iglesia
"... O diretor do ótimo, ainda que pouco conhecido, "O Dia da Besta", retorna com uma das pérolas visualmente mais interessantes do ano, uma mistura criativa de terror, drama, ação e comédia, com elementos de Kusturica, Guillermo del Toro e Tarantino..."
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