A Noiva de Frankenstein (Bride of Frankenstein – 1935)
Grande parte dos cinéfilos considera “A Noiva de
Frankenstein” superior ao original, mas eu discordo em gênero, número e grau.
É, de fato, um produto bastante diferente, com uma proposta menos debruçada na
construção de clima, maior interesse cômico, um monstro comunicativo e um viés
timidamente subversivo, representado em falas do Dr. Pretorius (Ernest Thesiger),
como aquela em que ele deixa implícito o caráter fabulesco do livro sagrado
católico, e, de maneira mais sutil, na forma como o roteiro trabalha a
homossexualidade, elemento que o diretor James Whale utiliza corajosamente, o
que provavelmente fez com que ele aceitasse comandar essa sequência, após lutar
por muito tempo contra esse desejo do estúdio.
Tanto no terno encontro do
monstro com o violinista cego, duas almas solitárias buscando aceitação em uma
sociedade que parece não ter sido pensada para eles, quanto na rejeição
violenta da “noiva” (Elsa Lanchester) criada para satisfazer o personagem de
Boris Karloff, obviamente confrontando os convencionais papeis sexuais dos
gêneros, nós podemos encontrar sob o verniz do horror uma mensagem socialmente
revolucionária para a época. A personagem misteriosa que nasce no terceiro ato,
fruto da união de Pretorius e Henry Frankenstein (Colin Clive), ao som de uma versão macabra da marcha nupcial por Franz Waxman, acaba sendo destruída para
que seja celebrada na cena final a relação heterossexual, socialmente aceitável, do doutor e Elizabeth (Valerie Hobson). O monstro, com lágrimas nos olhos, afirma para seu "pai" que ambos pertencem aos mortos, antes de acionar a alavanca que destrói o local.
Apesar desse subtexto ousado, a execução prejudica o resultado, com a caricata
irlandesa Una O’Connor ganhando um destaque exagerado como alívio cômico. A
figura do monstro era mais imponente no primeiro, com o rosto cadavericamente
magro do ator intensificando o impacto de suas aparições. Karloff ganhou peso,
um rosto com aparência mais saudável, além de se mostrar visivelmente
contrariado com a ideia de dar voz ao personagem. O que mais gosto na trama é a
inclusão da sequência inicial mostrando a escritora Mary Shelley, vivida pela
própria “noiva”, como a bela e doce mulher da alta sociedade que é capaz de
criar o pesadelo mais aterrorizante em sua mente, conceito que agradava sobremaneira Whale.
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