Trinity é o Meu Nome (Lo Chiamavano Trinità... – 1970)
Carlo Pedersoli, o internacionalmente conhecido Bud Spencer,
famoso pelos filmes que fez com Terence Hill, faleceu ontem em Roma aos oitenta
e seis anos. Eles chamaram a atenção do público pelo contraste físico na trilogia dirigida
por Giuseppe Colizzi, composta por “Deus Perdoa, Eu Não!”, “Os Quatro da Ave
Maria” e “A Colina dos Homens Maus”. Seu nome no Brasil é sinônimo de “Sessão
da Tarde”, já que marcou presença constante na nossa programação televisiva em
filmes como: “A Dupla Explosiva”, “Eu, Você, Ele e os Outros”, que foi rodado
no Rio de Janeiro, “Dois Loucos Com Sorte”, “Banana Joe”, “Aladdin”, “Nós
Jogamos com os Hipopótamos” e “Dois Tiras Fora de Ordem”, além de “Trinity é o
Meu Nome”, que considero o melhor trabalho da dupla.
Grande parte de sua
filmografia se mantém num lugar cativo em minha memória afetiva, mas apenas
esse projeto dirigido por Enzo Barboni sobreviveu efetivamente ao teste do
tempo, sem o fator da nostalgia que embeleza tudo o que toca. O sucesso dessa comédia salvou a indústria italiana de
cinema, mas também fez com que o gênero spaghetti western nunca mais fosse
levado a sério. É interessante ressaltar que originalmente o projeto seria um
convencional bang-bang, mas o roteiro não agradava ninguém, então o diretor retirou
um terceiro protagonista, seguindo um conselho de Spencer, e focou sua atenção
na dupla, com liberdade pra avacalhar o que parecia ser uma tragédia financeira
anunciada. Spencer também foi o responsável pela ideia de enfatizar comicamente
a diferença física dos dois protagonistas, transformando-os em irmãos. A trama
traz referências de “Os Brutos Também Amam”, “Sete Noivas Para Sete Irmãos”, “Caravana
de Bravos” e até mesmo de “Os Sete Samurais”.
Ao som da excelente canção-tema composta por Franco
Micalizzi, somos apresentados ao esfarrapado Trinity (Hill), confortavelmente
arrastado por seu cavalo em uma liteira improvisada, pés descalços, aba do
chapéu protegendo da luz do sol, o extremo oposto da figura heroica que os
faroestes eternizaram no inconsciente coletivo do público. O prato de feijão
que ele devora como um animal esfomeado na taberna, viraria um símbolo do
personagem e o título do subgênero: fagioli (feijão) western. O sorriso
debochado ao escutar que é conhecido como o mais rápido gatilho do Velho Oeste,
seguido por uma escrachada demonstração, atirando displicentemente pra trás e
sem olhar para o alvo, a desconstrução inteligente de uma fórmula que já estava
desgastada. O seu irmão Bambino, o novo xerife da cidade, um gigante abrutalhado
e gentil vivido por Spencer, nomeado por Trinity como “mão esquerda do diabo”, lê
o seu jornal tranquilamente enquanto um trio de malfeitores estereotipados o
ameaça, uma composição visual que coloca literalmente em confronto o clássico e
a paródia. A história é simples, a marca registrada do filme são as longas pancadarias em grupo coreografadas pelos mais experientes dublês italianos, aquele estrondoso tapa de mão
aberta que induz ao riso imediato, uma característica quase circense que o povo
brasileiro identificou como similar às peripécias dos Trapalhões.
Com o falecimento de Bud Spencer, morre mais um pedaço importante da minha infância. Que o seu legado artístico siga divertindo as próximas gerações. Que nunca nos esqueçamos...
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