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Corrente do Mal (It Follows – 2014)
Para a jovem Jay, de 19 anos, o outono deveria se concentrar
na escola, nos meninos e nos fins de semana no lago. Mas, depois de um encontro
sexual aparentemente inocente, ela se vê atormentada por estranhas visões e um
sentimento constante de que alguém ou algo está seguindo-a. Confrontada com esse
fardo, Jay, com a ajuda de seus amigos, deve encontrar uma maneira de escapar
dos horrores que parecem estar a poucos passos de distância.
O meu gênero de formação, como já mencionei várias vezes, é
o terror. Em minhas listas de melhores filmes de cada ano, tento sempre reservar
lugar para aquela grande obra que me renova a esperança de que há vida
inteligente no horror cinematográfico, tão banalizado em produções cada vez
mais infantis e imediatistas. Esse filme ocupou o décimo primeiro lugar na
lista do ano passado, quase entrou na seleção oficial.
A inspiração do jovem roteirista/diretor David Robert
Mitchell foram os clássicos sci-fi das décadas de cinquenta e sessenta, como o
livro “Os Invasores de Corpos”, de Jack Finney, e os filmes onde alienígenas
tomam o corpo de humanos, como “A Ameaça Que Veio do Espaço”, de Jack Arnold. Ele
driblou inteligentemente o baixo orçamento ao estabelecer que o instrumento do
medo, o perigo que ronda os personagens, numa homenagem aos slashers oitentistas
norte-americanos, seria representado por pessoas caminhando lentamente em
direção à câmera. Essa opção conceitual rejeita a passividade usual do cinema, com
o auxílio da profundidade de campo, estimulando no espectador a exploração
dedicada em todas as cenas, com a atenção direcionada para além do que ocorre
no primeiro plano, já que todos os que cruzam o cenário são altamente suspeitos.
A trilha sonora com sintetizadores que remetem aos filmes
adolescentes de terror das décadas de setenta e oitenta, aliada a algumas
interpretações menos inspiradas e alguns alívios cômicos tolos, prejudicam um
pouco o primeiro ato, mas a utilização da maldição que é passada adiante pela relação
sexual engrandece o resultado, uma metáfora para o momento perturbador na vida
dos jovens em que o presente deixa de ser uma festa ininterrupta e o futuro começa
a se mostrar amedrontador. As responsabilidades da maturidade tomam a forma de
vultos inabaláveis, a constatação de que todo ato gera uma consequência.
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