segunda-feira, 2 de maio de 2016

Faces do Medo - "Corrente do Mal", de David Robert Mitchell

Link para os textos do especial:


Corrente do Mal (It Follows – 2014)
Para a jovem Jay, de 19 anos, o outono deveria se concentrar na escola, nos meninos e nos fins de semana no lago. Mas, depois de um encontro sexual aparentemente inocente, ela se vê atormentada por estranhas visões e um sentimento constante de que alguém ou algo está seguindo-a. Confrontada com esse fardo, Jay, com a ajuda de seus amigos, deve encontrar uma maneira de escapar dos horrores que parecem estar a poucos passos de distância.


O meu gênero de formação, como já mencionei várias vezes, é o terror. Em minhas listas de melhores filmes de cada ano, tento sempre reservar lugar para aquela grande obra que me renova a esperança de que há vida inteligente no horror cinematográfico, tão banalizado em produções cada vez mais infantis e imediatistas. Esse filme ocupou o décimo primeiro lugar na lista do ano passado, quase entrou na seleção oficial.

A inspiração do jovem roteirista/diretor David Robert Mitchell foram os clássicos sci-fi das décadas de cinquenta e sessenta, como o livro “Os Invasores de Corpos”, de Jack Finney, e os filmes onde alienígenas tomam o corpo de humanos, como “A Ameaça Que Veio do Espaço”, de Jack Arnold. Ele driblou inteligentemente o baixo orçamento ao estabelecer que o instrumento do medo, o perigo que ronda os personagens, numa homenagem aos slashers oitentistas norte-americanos, seria representado por pessoas caminhando lentamente em direção à câmera. Essa opção conceitual rejeita a passividade usual do cinema, com o auxílio da profundidade de campo, estimulando no espectador a exploração dedicada em todas as cenas, com a atenção direcionada para além do que ocorre no primeiro plano, já que todos os que cruzam o cenário são altamente suspeitos.

A trilha sonora com sintetizadores que remetem aos filmes adolescentes de terror das décadas de setenta e oitenta, aliada a algumas interpretações menos inspiradas e alguns alívios cômicos tolos, prejudicam um pouco o primeiro ato, mas a utilização da maldição que é passada adiante pela relação sexual engrandece o resultado, uma metáfora para o momento perturbador na vida dos jovens em que o presente deixa de ser uma festa ininterrupta e o futuro começa a se mostrar amedrontador. As responsabilidades da maturidade tomam a forma de vultos inabaláveis, a constatação de que todo ato gera uma consequência. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário