terça-feira, 10 de maio de 2016

TOP - Filmes Wuxia

Foi lançado nos cinemas nacionais no último final de semana o excelente “A Assassina”, de Hou Hsiao-Hsien, uma incursão poética no subgênero wuxia, filmes de época que misturam fantasia (personagens que voam, por exemplo) com artes marciais, sobre protagonistas que prezam a honra e a justiça, o molde que George Lucas usou na criação de seus Cavaleiros Jedi. Fiz uma maratona e revi os meus filmes favoritos, além de conhecer alguns novos, para preparar essa lista. Foi interessante perceber que, ao contrário de boa parte dos gêneros cinematográficos, a nostalgia não favorece os clássicos, considero que o avanço da tecnologia nos últimos trinta anos foi essencial para os wuxia. Muitos dos títulos importantes no contexto histórico, como eu pude comprovar nessa revisão, não foram beneficiados pelo teste do tempo. Alguns já tiveram textos aqui no blog, outros terão em breve, então eu não vou fazer análises longas sobre cada obra, apenas despretensiosos comentários. A lista está em ordem de preferência.


1 – Herói (Ying xiong – 2002)
É impressionante como o filme dirigido por Zhang Yimou se mantém tão emocionante quanto eu me lembrava, como o equilíbrio perfeito entre os impulsos wudang (força interior) e shaolin (força exterior) que movem o guerreiro sem nome vivido por Jet Li. A beleza contemplativa nos enquadramentos, uma fotografia deslumbrante, divide espaço com sequências verdadeiramente empolgantes.


2 – A Assassina (Nie yin niang – 2015)
Quando eu me lembro de “Barry Lyndon”, uma das obras-primas de Kubrick, as imagens se sobrepõem à trama, fortes e de uma beleza de se admirar de joelhos. O mesmo ocorre com essa preciosa incursão do taiwanês Hou Hsien-Hsiao no subgênero, subvertendo as expectativas de todos ao abraçar respeitosamente a tradição sem perder contato com seu estilo contemplativo.


3 – O Grande Mestre Beberrão (Da zui xia – 1966)
Hoje a indústria norte-americana celebra fortes protagonistas, heroínas que não dependem dos homens, mas esse filme pioneiro no subgênero, dirigido por King Hu, já fazia isso em meados da década de sessenta, com a temida Andorinha Dourada, vivida por Cheng Pei-Pei. Utilizando a técnica de dança da heroína na coreografia das lutas, Hu consegue elaborar um estilo elegante, onde cada movimento é friamente calculado, um contraponto interessante ao estilo despretensioso do bêbado, que é tão competente, que consegue fingir que não há disciplina alguma.


4 – Cinzas do Passado (Dung che sai duk – 1994)
Esse foi melhorando com o tempo, acho que eu não tinha maturidade suficiente na estreia para absorver os temas abordados, estranhei as poucas cenas de lutas. Quando saiu a versão Redux, em 2008, foi como ver algo totalmente novo, compreendi a relação entre a vastidão dos cenários e a pequenez dos personagens. Wong Kar-Wai estabelece um clima tão hipnótico que a trama, seja ela qual for, não se torna relevante. Não pode ser reduzido a apenas um wuxia memorável, ele é um dos filmes mais bonitos de todos os tempos.


5 – Era Uma Vez na China (Wong Fei Hung – 1991)
Uma ótima introdução para o subgênero, já que mistura elementos dos wuxia com a ação menos fantasiosa e o senso de humor dos projetos mais populares de artes marciais. O diretor Tsui Hark, da geração que renovou o gênero no final da década de setenta, também entregou uma sequência tão boa quanto, mas o último projeto da trilogia é fraco. Jet Li vive o herói histórico que lutou para encontrar paz trilhando um caminho honrado em meio a um conflito entre culturas.


6 – O Tigre e o Dragão (Wo hu cang long – 2000)
Talvez seja o mais popular wuxia de nosso tempo, um projeto pensado para exportação, o seu sucesso de público e crítica foi avassalador, mas não apresentou grandes novidades para aqueles que já conheciam o subgênero. Ang Lee é um artesão minucioso, o que se reflete em cada cena. A trama de conceitos diluídos, um romance no diapasão ocidental, mas emoldurada com raro requinte. Vale destacar a química entre o trio de protagonistas: Michelle Yeoh, Chow Yun-Fat e Zhang Ziyi.


7 – O Clã das Adagas Voadoras (Shi mian mai fu – 2004)
O desfecho poderia ter sido mais bem pensado, prejudica o filme, mas a soma dos fortes méritos na condução de Zhang Yimou faz valer a experiência. Mais sentimental e romântico do que “Herói”, esse é o filme perfeito para apresentar o subgênero para aquela sua namorada que diz não suportar filmes de artes marciais. A sequência da batalha na floresta de bambu é impressionante, as lutas coreografadas por Ching Siu-Tung são inesquecíveis, intensamente criativas na utilização de elementos do cenário.


8 – A Tocha de Zen (Xia nu – 1971)
Esse clássico influente de King Hu fez história ao ser premiado em Cannes, um selo de prestígio que alçou o gênero ao patamar que merecia, mas a sua longa duração, mais de três horas, não ajudou no teste do tempo, percebi nessa revisão que a trama se arrasta em diversos momentos, com desajeitado equilíbrio entre a lenta primeira metade e o excesso de ação na segunda. Mas os seus pontos fortes, a fotografia que me remete ao “Kwaidan” de Kobayashi, o simbolismo dos valores budistas e a jornada espiritual representada nos confrontos do terceiro ato, compensam com folga os problemas.


9 - Dragon Gate Inn (Long men kezhan – 1967)
Mais um importante filme de King Hu na lista, cineasta que precisa ser resgatado pelas distribuidoras de nosso home vídeo, para que a nova geração não tenha que garimpar tanto quanto eu precisei na minha adolescência. Em essência, um filme de câmara, que tenho certeza que foi uma das inspirações mais fortes de Tarantino em seu recente “Os Oito Odiados”, com uma primeira hora brilhante, que se perde um pouco no segundo ato.


10 – The New One-Armed Swordsman (Xin du bi dao – 1971)
Por mais que seja importante valorizar o pioneirismo do original “One-Armed Swordsman”, de 1967, não consigo gostar do filme. Assim como Howard Hawks, que reutilizou a trama de “Rio Bravo” em mais dois projetos, o excelente diretor Chang Cheh consegue com essa reinvenção aprimorar todos os elementos já trabalhados no primeiro e no segundo, tendo com David Chiang um protagonista mais talentoso. Mas vale destacar que a obra não tem a elegância dos filmes já citados na lista, seguindo mais a pegada das produções de artes marciais dos Shaw Brothers, nem representa o que de melhor o diretor fez fora dos wuxia, como “Vingança”, “O Assassino de Shantung”, “Os Cinco Venenos de Shaolin” e “Shaolin Martial Arts”. 

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