Para Sempre, Alice (Still Alice - 2014)
Se, por um lado, o roteiro do filme é estruturado como um
projeto televisivo exploitation da década de noventa, há de se aplaudir a
coragem na escolha do tema, que precisa realmente ser discutido, ele precisa
estar nos holofotes. Com exceção de “Amor”, de Michael Haneke, “O Filho da
Noiva”, de Campanella, e “A Separação”, de Asghar Farhadi, o Alzheimer
normalmente é utilizado com excesso de melodrama, um recurso pouco elegante,
apelativo. “Para Sempre, Alice”, do diretor Richard Glatzer, não chega
a entrar nessa categoria, por pouco, porém, é vítima de uma utilização
minuciosamente calculada, o que dá a impressão de que trata a doença como força
motriz banal para um gradual crescendo de suspense, buscando lágrimas, algo que
se poderia esperar, por exemplo, de uma telenovela mexicana.
A atuação de Julianne Moore, que vive uma professora de
linguística que começa a perceber estar esquecendo as palavras, acompanha a
proposta folhetinesca da condução da trama, porém, em pequenos momentos, muito
discretos, ela demonstra grande inteligência, como quando, no início do filme,
ela, em um discurso público, enfatiza sua preocupação exagerada com cada sílaba
proferida, enriquecendo, em subtexto, a fragilidade do roteiro. Essa atitude diz muito sobre a personalidade dela, e, especialmente,
sobre a importância psicológica de sua formação profissional, enquanto alicerce
principal de sua segurança. Ao perceber os primeiros sinais da doença, ela
perde sua confiança, desaba, já que todos os elementos externos, família,
amigos, são coadjuvantes de luxo em sua vida. Moore preenche com essas
sutilezas o histórico de sua personagem, que o filme se limita a revelar, de
forma canhestra e convencional, em flashbacks bucólicos.
O filme acerta ao retratar os vários estágios da doença, a
desorientação, as distorções visuais, a reação dos familiares, como o marido,
vivido por Alec Baldwin, que prefere fingir crer que não há nada de errado,
como forma de mascarar sua preocupação. Outro ponto importante que é
salientado, o fato de que, diferente do senso comum, o estereótipo que se
limita aos devastadores estágios finais, o Alzheimer já passa a ser uma árdua
batalha desde a averiguação inicial dos sintomas, que causam no indivíduo uma
perda total de autoestima, os primeiros passos de uma jornada solitária por uma
longa estrada cada vez mais escura. O medo usualmente faz com que as pessoas temam tocar no
assunto, o que é sempre prejudicial. Quanto mais filmes e livros forem feitos
sobre o tema, maiores serão as chances de que, num futuro próximo, as vítimas
tenham um problema a menos para se preocuparem: a ignorância da sociedade.
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