Gemma Bovery - A Vida Imita a Arte (Gemma Bovery - 2014)
O sentimento de insatisfação existencial da Bovary de
Flaubert percorre a trama dessa curiosa, ainda que irregular, homenagem,
comandada por Anne Fontaine. O elegante padeiro francês, vivido por Fabrice
Luchini, estabelece a analogia, enxergando na jovem turista inglesa, uma
atuação impecável de Gemma Arterton, uma visão idealizada de sua heroína literária,
o elemento sensual que irá perturbar seu conforto matrimonial.
A abordagem indiferente, na frente e por trás das câmeras, no entanto, não
consegue sustentar a mão pesada do texto, que minimiza o potencial de
encantamento ao forçar, até mesmo nas situações mais triviais, um verniz de
austeridade pretensamente intelectual. É eficiente a maneira como o roteiro
desenvolve a identificação do personagem masculino com a imagem projetada de
suas frustrações românticas, porém, a ironia dominante na graphic novel de Posy
Simmonds não é transposta com fluidez, resultando, na maior parte do tempo, em
tentativas ingênuas de metalinguagem, nascidas de um excesso de coincidências
tolas, ambientadas em um belo cenário. Essa aparente preguiça narrativa é
coerente com muitas das soluções propostas, uma visão sexista antiquada, que
caberia perfeitamente dentre as comédias misóginas da década de sessenta.
A protagonista, com sua inocência provocante, parece saída do erotismo
nostálgico dos filmes de Bigas Luna, uma musa objetificada, o que contrasta com
a visão profundamente humana da anti-heroína de Flaubert.
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