quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Make 'Em Laugh - "O Rato Que Ruge"


O Rato Que Ruge (The Mouse That Roared – 1959)
O pequeno ducado de Grand Fenwick passa por maus momentos. Então, a Duquesa e o Primeiro Ministro bolam um plano infalível para salvar seu país da falência: declarar guerra aos Estados Unidos e perder, para conseguir grandes quantidades em ajuda econômica de pós-guerra. Só não avisaram ao chefe das forças invasoras que a intenção era perder a guerra.


Uma das minhas lembranças cinematográficas mais queridas da infância foi ter assistido essa comédia britânica na televisão, verdadeiramente única na forma como satiriza o jogo político de uma guerra. O segundo ato, especialmente, mostrando o retorno dos soldados, é brilhante. Anos depois, já no ginásio, faltei um dia de aula, para ficar acordado de madrugada assistindo ao filme dirigido por Jack Arnold em uma exibição no “Corujão” global. Não bastava só colocar o aparelho VHS para gravar, eu fiz questão de matar a saudade em tempo real. Quando comecei minha coleção de DVD’s, cansei de enviar mensagens para as distribuidoras, pedindo o lançamento dessa joia subestimada na carreira de Peter Sellers, em seu primeiro grande trabalho interpretando múltiplos personagens.

Conheci o seu atrapalhado marechal Tully Bascomb, autoridade da menor nação do mundo, o Grão-Ducado de Fenwick, anos antes de morrer de rir com o famoso Inspetor Clouseau. Como esquecer a graciosa duquesa, novamente Sellers, que se assemelha a grande parte dos políticos brasileiros, totalmente desorientada, indiferente aos problemas de seu povo e ansiosa pela emoção da batalha? Dentre as grandes produções britânicas da época no gênero, como “O Quinteto da Morte” e “O Mistério da Torre”, acredito que essa seja favorecida por um tema universalmente atraente, executado de forma inconsequentemente descompromissada. Até mesmo a desnecessária subtrama romântica é favorecida pela presença encantadora de Jean Seberg, como a filha do cientista criador da bomba com formato de bola de futebol americano, um ano antes de protagonizar “Acossado”, de Godard.

O desfecho, que obviamente não irei revelar, contém uma mensagem poderosa, fiel ao livro do irlandês Leonard Wibberley que o roteiro adapta, traduzida em uma cena que nunca esqueci. O cinema já produziu diversos filmes antiguerra com momentos grandiosos de puro simbolismo, porém, nenhum mais eficiente em sua simplicidade que a sequência final de “O Rato Que Ruge”.

* O filme está sendo lançado em DVD pela distribuidora: “Obras-Primas do Cinema”, em uma edição que inclui a excelente participação de Sellers no “The Muppet Show”, exibido em 1978, em versão integral e com legendas. 

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