O Rato Que Ruge (The Mouse That Roared – 1959)
O pequeno ducado de Grand Fenwick passa por maus momentos.
Então, a Duquesa e o Primeiro Ministro bolam um plano infalível para salvar seu
país da falência: declarar guerra aos Estados Unidos e perder, para conseguir
grandes quantidades em ajuda econômica de pós-guerra. Só não avisaram ao chefe
das forças invasoras que a intenção era perder a guerra.
Uma das minhas lembranças cinematográficas mais queridas da
infância foi ter assistido essa comédia britânica na televisão, verdadeiramente
única na forma como satiriza o jogo político de uma guerra. O segundo ato,
especialmente, mostrando o retorno dos soldados, é brilhante. Anos depois, já
no ginásio, faltei um dia de aula, para ficar acordado de madrugada assistindo
ao filme dirigido por Jack Arnold em uma exibição no “Corujão” global. Não bastava só colocar o aparelho
VHS para gravar, eu fiz questão de matar a saudade em tempo real. Quando
comecei minha coleção de DVD’s, cansei de enviar mensagens para as
distribuidoras, pedindo o lançamento dessa joia subestimada na carreira de
Peter Sellers, em seu primeiro grande trabalho interpretando múltiplos
personagens.
Conheci o seu atrapalhado marechal Tully Bascomb, autoridade
da menor nação do mundo, o Grão-Ducado de Fenwick, anos antes de morrer de rir
com o famoso Inspetor Clouseau. Como esquecer a graciosa duquesa, novamente
Sellers, que se assemelha a grande parte dos políticos brasileiros, totalmente
desorientada, indiferente aos problemas de seu povo e ansiosa pela emoção da
batalha? Dentre as grandes produções britânicas da época no gênero, como “O
Quinteto da Morte” e “O Mistério da Torre”, acredito que essa seja favorecida
por um tema universalmente atraente, executado de forma inconsequentemente descompromissada.
Até mesmo a desnecessária subtrama romântica é favorecida pela presença encantadora
de Jean Seberg, como a filha do cientista criador da bomba com formato de bola
de futebol americano, um ano antes de protagonizar “Acossado”, de Godard.
O desfecho, que obviamente não irei revelar, contém uma
mensagem poderosa, fiel ao livro do irlandês Leonard Wibberley que o roteiro
adapta, traduzida em uma cena que nunca esqueci. O cinema já produziu diversos
filmes antiguerra com momentos grandiosos de puro simbolismo, porém, nenhum
mais eficiente em sua simplicidade que a sequência final de “O Rato Que Ruge”.
* O filme está sendo lançado em DVD pela distribuidora:
“Obras-Primas do Cinema”, em uma edição que inclui a excelente participação de
Sellers no “The Muppet Show”, exibido em 1978, em versão integral e com
legendas.
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