Hoje promovi o meu reencontro com a distribuidora que
acredito representar o símbolo máximo daquela época: América Vídeo, com seus “filmes
que explodem como dinamite”. Quem não ficava louco de vontade de conhecer a bucólica
“Pousada do Sandi”, em Paraty, que era divulgada em todas as fitas? Como
esquecer essa vinheta de abertura, ao som de “Winner Takes It All”, cantada por
Sammy Hagar, com narração do saudoso Jorgeh Ramos, que nos colocava no clima certo,
na expectativa para duas horas de puro escapismo?
Alguns anos atrás, eu tive a honra de ser convidado para
escrever o texto de abertura do Prêmio da Dublagem Carioca, que foi narrado
pelo Jorgeh. Fiz questão de contar pra ele que eu ficava imitando a sua voz, o
texto memorizado, enquanto aguardava o início dos filmes dessa distribuidora. É
surreal como a vida dá voltas, nunca ia imaginar que ele um dia narraria um
texto meu.
Olhos de Tigre (Parole de Flic – 1985)
O Fantasma da Ópera (The Phantom of the Opera – 1925)
Após uma limpeza no cabeçote do aparelho, acabei me
surpreendendo com uma fita cuja trama eu não me recordava. É muito legal ver o
eterno Le Samouraï e Rocco Parondi sendo transformado em um misto de Charles
Bronson e Stallone, um policial aposentado que faz justiça com as próprias
mãos, após sua filha ser assassinada por uma gangue de vigilantes urbanos. Ele
briga descamisado numa praia, com direito até a uma montagem de treinamento,
desferindo socos na direção da câmera, numa trama que ele mesmo escreveu, defendendo
até a canção que toca nos créditos finais. O seu comprometimento fica latente
ao percebermos que ele realiza suas próprias cenas de ação mais difíceis, e são
várias, com a câmera preocupada em assegurar o público de que não se trata de
um dublê. Ele entra no mercadinho de um dos assassinos, tem todo o trabalho de
encontrar duas nozes, só pra apavorar o marginal na hora de pagar a conta,
esmagando-as logo após afirmar calmamente que aquelas eram as bolas do sujeito.
E, demonstrando vocação para quiromante, ele pede para o homem mostrar sua
linha da vida, poucos segundos antes de meter uma bala na palma da mão que se
estendia no ar. Esse tipo de elemento típico da fórmula americana de trabalhar
tramas de vingança, conduzido com mão segura pelo diretor francês José
Pinheiro, mostra como se pode manter uma qualidade autoral abraçando o estilo
de outra cultura. Um ótimo filme de ação, infelizmente nunca lançado por aqui
em DVD ou Blu-ray.
Já “O Fantasma da Ópera” foi incluído apenas pela situação exótica
que envolveu meu primeiro contato com ele. Assim que coloquei a fita pra rodar
no aparelho, voltaram em minha mente as lembranças de um dia atípico nas férias
de final de ano, no final da década de noventa. Eu carregava para todo lado o
Guia de Vídeo – Terror, lançado nas bancas de jornal pela Editora Escala. Eu
memorizava as sinopses e corria desesperado atrás daqueles filmes que ainda não
tinha encontrado nas locadoras de vídeo. Esse era um dos que eu tinha mais interesse,
já que sempre fui fã do livro original de Gaston Leroux e um apaixonado pelo
cinema mudo. Eu pegava a Lista Amarela e saía ligando para todas as locadoras
da cidade, perguntando se tinham a fita, sem sucesso. Nas férias, fui passar
umas semanas na casa do meu avô na região serrana de Teresópolis. Chegando lá,
fiquei feliz, já que tinham aberto uma locadora exatamente na esquina da casa.
Melhor, impossível! Na primeira visita que fiz ao lado do meu pai, meus olhos
não podiam acreditar no que estavam vendo. Lá estava, em posição de destaque, o
clássico protagonizado por Lon Chaney, lançado pela distribuidora Continental.
Após toda a burocracia para me tornar sócio, deixei meu pai furioso, afinal, eu
precisava copiar aquela fita para colocar na minha coleção. Na casa não havia
dois aparelhos, então, por incrível que pareça, fiz meu pai descer a serra
comigo, de volta para nosso apartamento, para que eu pudesse realizar a
operação. E, nunca me esqueço da frustração, o VHS simplesmente não rodava. Era
como se não houvesse nada gravado na fita. Daquele dia em diante, tomei raiva
da Continental, que, ainda hoje, continua realizando o mesmo trabalho de baixa
qualidade no formato DVD.
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