Mommy (2014)
Esse não é o melhor filme na curta, porém promissora,
carreira do jovem diretor canadense Xavier Dolan, lugar que reservo ao seu
segundo projeto: “Amores Imaginários”, mas é mais interessante que os
anteriores “Laurence Anyways” e “Tom na Fazenda”. A estética de excessos, que o
leva a ser comparado com Pedro Almodóvar e Baz Luhrmann, pode afastar boa parte
do público, mas é fácil demais rejeitar suas obras taxando-as de exibicionismo
arrogante, um rótulo que impede uma análise mais profunda.
Nesse projeto mais sóbrio, ele opta por uma razão de aspecto 1:1, que fala
diretamente à essência dos confinados personagens, limitados a uma existência
sem horizontes, expandindo a tela exatamente no belo momento que representa o
sonho, o potencial, as aspirações. A beleza dessa cena, que obviamente não irei
revelar, já demonstra que existe uma inteligência sensível por trás das
escolhas estéticas do diretor, não são artifícios vazios. Ele pode ter se
perdido na trama, com quebras de ritmo pontuais no decorrer da longa duração,
deixando de enriquecer mais a construção dos personagens, possibilitando maior
conexão emocional com suas motivações, o que tornaria mais agradável essa
experiência para o público, mas são equívocos compreensíveis em um cineasta que
ainda está se ajustando às suas próprias ambições artísticas.
Ele evoluiu, aprimorando a utilização da câmera lenta, algo que eu considerava
falho em seus filmes anteriores. A utilização de músicas pop como parte
intrínseca, complementar, na narrativa, também irá repelir aqueles que não
apreciam o estilo, mas é válido entender que, apesar do conflito entre a mãe,
vivida de forma brilhante por Anne Dorval, e o filho ser intimista, o roteiro é
uma ficção científica, mostrando uma versão alternativa e futurista do Canadá,
onde uma nova lei permite que os pais entreguem seus filhos com problemas
mentais aos cuidados de uma instituição pública. A teatralidade na
interpretação é, assim como o uso da música, uma ferramenta que expressa os
sentimentos em jogo, que potencializa o soco no estômago desferido por aqueles
que a sociedade julga como perdedores, o desgaste na relação entre pessoas que
se amam tanto, que encontram dificuldade em conviver.
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