Link para a entrevista com Ginger Alden, última namorada de Elvis:
Poucos sabem disso, mas o grande sonho de Elvis era se
tornar um astro do cinema. Ele trabalhou como lanterninha durante um bom tempo,
memorizava os diálogos dos filmes, idolatrava James Dean, gostava de imitar seu
personagem em “Juventude Transviada”, como uma forma de disfarçar sua
introversão. Quando começou a lucrar com seus discos, pediu ao seu empresário,
o Coronel Parker, uma chance em Hollywood. Como cantor, ele decidia tudo nos
estúdios de gravação, mas como ator, ele achava fascinante estar submetido aos
ensinamentos de seus diretores e colegas em cena, levando tremendamente a sério
essa função. Dedicado, ele memorizava o roteiro completo, até mesmo as cenas em
que seu personagem não aparecia. Foi assim, pelo menos, em seus primeiros
projetos, antes de começar a se desinteressar pela forma com que a máquina
industrial o conduzia inexoravelmente a repetir a mesma fórmula de sucesso.
O diretor Don Siegel, que trabalhou com ele em “Estrela de
Fogo”, chegou a lamentar publicamente as escolhas do empresário de Elvis, já
que percebeu no cantor um tremendo potencial. O Coronel Parker simplesmente não
acreditava no talento de seu protegido como ator, sentimento que explica sua
atitude de sempre priorizar os números, ao invés dos papeis nos filmes. O jovem
queria ser desafiado como ator, mas acabou desiludido com a profissão, somente
retomando o desejo em meados da década de setenta, quando investiu em um
longa-metragem sobre artes marciais, sua paixão na época. O projeto nunca saiu
do papel. Ele já estava passando por sérios problemas de saúde, não havia mais
tempo para realizar sonhos. Mas, voltemos ao início, encontrando um jovem
obstinado, que acabou promovendo uma revolução cultural.
Ama-me com Ternura (Love me Tender – 1956)
A trama é ambientada na época da Guerra da Secessão dos EUA.
Tendo recebido a notícia que seu irmão mais velho (Richard Egan) havia morrido
em combate, um jovem fazendeiro do Texas (Presley) casa-se com a amada de seu
irmão (Debra Paget). Mas o inesperado regresso do irmão detona uma amarga
rivalidade fraterna e trágicos confrontos com os soldados da União.
Era comum nos faroestes posteriores a utilização de um jovem
rebelde, quase sempre cantor, como forma de atrair um público que não
prestigiava a indústria. O clássico “Onde Começa o Inferno”, de John Ford, teve
Ricky Nelson. Isso só foi possível graças ao arrebatador sucesso de “Ama-me com
Ternura”. A sorte de Elvis foi que a Paramount estava precisando
desesperadamente de algum fenômeno que preenchesse o vazio deixado pela
separação de Jerry Lewis e Dean Martin. O produtor Hal Wallis queria algum
artista que fosse atraente para os jovens, o que encontrou ao assistir uma
apresentação do cantor na televisão americana. A ideia era colocar ele na tela
grande, cantando o maior número possível de temas, em locações exóticas. Emprestado
para a Fox, leu o roteiro de “The Reno Brothers”, ficando empolgado ao
constatar que seria um papel dramático, sem canções. Pressionado pelo
empresário, que o fez acreditar que não fariam dinheiro daquela forma, Elvis
aceitou a inclusão de quatro temas, incluindo aquele que passaria a ser o
título do filme, que seria dirigido pelo inexpressivo Robert D. Webb. Essa atitude submissa acabaria afastando participações de
destaque em obras importantes, como “Amor, Sublime Amor”, “A Lei da Montanha” e,
anos mais tarde, em “Nasce uma Estrela”, onde foi substituído por Kris
Kristofferson.
Enquanto filmava, o rapaz chocou os pais de família no
horário nobre, com seu rebolado em “Hound Dog”, no tradicional “Ed Sullivan
Show”, fazendo com que o estúdio acreditasse ainda mais no potencial financeiro
daquele artista que seria, inicialmente, apenas um coadjuvante sem muita
importância. Aumentaram suas cenas e deram maior destaque nas canções. No
roteiro, seu personagem morre ao final de um tiroteio, mas os executivos sabiam
que não poderiam deixar o público jovem sair da sessão num clima sombrio que o afastasse da hipótese de assistir novamente. Após várias reuniões, ficou decidido que o
personagem morreria num ato de bravura e redenção, sendo visto no desfecho como
um espírito de luz que continua a olhar por sua família, entoando uma versão
mais melancólica da canção-tema, garantindo as lágrimas das meninas e o lucro
na bilheteria. A Paramount viu o sucesso com a garotada, mas prestou mais atenção
na indiferença do público adulto, nos cinemas mais tradicionais e respeitados,
então decidiu não correr os mesmos riscos da empresa rival, fazendo com que
Elvis interpretasse, nos três filmes seguintes, com mínimas variações, um
cantor profissional.
Elvis fez três faroestes em sua carreira, sendo esse o menos
interessante, ainda que apresente o jovem em seu estado bruto. Quando seu personagem
sobe no palco e emenda: “Let Me” e “Poor Boy”, nós podemos ver o rebelde que
escandalizou a nação, não o rapaz comportado que a indústria moldaria ao longo
da década de sessenta.
A Seguir: “A Mulher Que eu Amo” (Loving You)
Muito obrigada Octavio, eu gostar da leitura !!!!!!!!
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