O Solar das Almas Perdidas (The Uninvited – 1944)
Os irmãos Roderick (Ray Milland, que venceria o Oscar no ano seguinte, por "Farrapo Humano") e Pamela Fitzgerald (Ruth
Hussey) compram uma mansão abandonada na costa da Inglaterra, por um preço
muito abaixo do mercado. O que inicialmente parecia ser um ótimo negócio se
torna um pesadelo, quando os irmãos descobrem que o lugar é assombrado por
espíritos.
Fantasmas até então eram utilizados no cinema como alívio
cômico, desmascarados ao final como simples truques. O diretor Lewis Allen, em seu
primeiro longa-metragem, inovou ao adotar uma postura séria, ainda que o
roteiro deixe transparecer em vários momentos certa preocupação mercadológica com
essa atitude, abordando uma casa mal-assombrada por dois fantasmas. O humor
está lá, mais do que deveria, mas em menor intensidade se comparado ao padrão
da época. O roteiro de Dodie Smith e Frank Partos estabeleceu a fórmula que seria copiada nas décadas
seguintes, como o conceito de que os animais temem um fantasma e a
característica queda de temperatura que revela a presença sobrenatural, seguida
pelo perfume que se espalha no local. A fotografia de Charles Lang Jr. é um
primor, mostrando que muito se perdeu no gênero com a invenção de Thomas
Edison, já que não há melhor moldura para o terror que um ambiente à luz de
velas.
O filme é adaptado do romance gótico de Dorothy Macardle,
uma ferrenha feminista, que utilizou a história fantasmagórica como metáfora
para compor uma narrativa sobre a relação entre mãe e filha, a peça central da
trama, além de uma crítica à limitadora ideologia doméstica imposta às
mulheres, com insinuações homossexuais menos sutis que em “Rebecca” (de
Hitchcock, uma clara inspiração), entre a personagem Holloway e Mary, que
perturbaram os censores do “Código Hays”. A trilha sonora de Victor Young legou
para a humanidade a linda canção “Stella by Starlight”, que na trama é
inspirada pela beleza da jovem homônima vivida por Gail Russell. Uma das provas
da qualidade do filme é que, somente vinte anos depois, a indústria abordaria o
tema com a mesma competência, no excelente “Desafio do Além” (The Haunting).
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