O Caminho do Diabo (The Devil’s Doorway – 1950)
Após voltar da Guerra da Secessão, um condecorado oficial
indígena da Cavalaria Americana, Lance Poole, tem seus direitos de propriedade
negados pelo simples fato de ser um índio. A situação acaba gerando um grande
conflito com os criadores brancos da região.
Diferente do tematicamente similar “Flechas de Fogo”,
lançado no mesmo ano, considero mais corajosa e realista a forma como o
roteirista Guy Trosper (do excelente “A Face Oculta”, dirigido por Marlon
Brando) aborda o preconceito contra os índios. Sob a direção de Delmer Daves,
havia uma ingênua esperança de reconciliação, uma utopia simplista que o
diretor Anthony Mann condena de forma crua.
A curta duração acentua o clima opressivo na trágica jornada
do nativo americano vivido por Robert Taylor. Um homem que retorna da Guerra
Civil como um herói, mas que acaba percebendo que sua competência em batalha servia
apenas para salientar a incompetência dos brancos, que utilizam suas leis como
arma. O índio quer viver em paz, decidindo até ir contra suas convicções na
tentativa de se adequar às leis dos brancos, mas ele é visto na sociedade como
um elemento sem valor algum, algo que precisa ser extirpado. A mensagem é clara
e corajosa, sem rodeios e, exatamente por esse motivo, sobreviveu tão bem ao cruel
teste do tempo.
A trama se esquiva das convenções do gênero à época,
inserindo uma bela Paula Reymond no papel de uma advogada, um personagem
tridimensional e ousado, utilizando-a numa crítica ao papel da mulher na
sociedade da época (quatro anos antes de “Johnny Guitar” levar a crítica no
gênero um patamar acima), não apenas uma adorável desculpa para um interesse
romântico, numa relação tensa emocionalmente, resolvida na ótima frase dita
pelo protagonista: “Há cem anos, poderia ter funcionado”. Toda a experiência de
Mann no cinema Noir é perceptível nesse seu primeiro faroeste, reforçado pela
excelente fotografia em preto e branco do parceiro húngaro John Alton, no
último projeto que fariam juntos. O diretor publicamente declarava sua
admiração pelo roteiro, que ele considerava o melhor que já havia lido. O produto
final transparece esse sentimento.
* O filme está sendo lançado em versão restaurada pela distribuidora Versátil.
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