Nossa sociedade já foi mais inteligente. Ou na realidade
seria esta afirmação mais um caso clássico em que a nostalgia, que possui o
poder de embelezar tudo o que toca, remove todas as más recordações, deixando a
impressão de que estamos sempre vivendo em épocas menos interessantes que a de
nossos antepassados?
Não estaria nossa ignorância apenas tendo maior
visibilidade, graças às redes sociais e a possibilidade, profetizada por Andy
Warhol, de todos terem direito a seus quinze minutos de fama? Tenho pensado bastante
nessa questão, analisando o histórico de nossa Arte, em especial a
cinematográfica, e acredito ter chegado finalmente a uma conclusão
satisfatória: nosso real problema não é puramente intelectual, mas também
físico, com a maldita preguiça. O comodismo está destruindo nossa
sociedade. Para que estimularmos nossa imaginação, adentrando no mundo proposto
pelo cineasta, chegando a sentir até os odores, já que podemos simplesmente
colocar um desconfortável óculos e ter a sensação fajuta de imersão com o 3D?
Percebam como esse artifício está crescendo em popularidade.
Décadas atrás uma pessoa poderia passar dias tentando
descobrir, por intermédio de conversas com vizinhos e ligações para aqueles
familiares mais refinados, o nome de um filme antigo ou o sobrenome obscuro de
algum artista famoso. Nunca me esqueço da mãe de um amigo meu, voltando da rua
com “meio palmo de língua para fora”, frustrada de uma cansativa ida à biblioteca
onde tentava encontrar um livro “x”, que poderia ajudar a encontrar
uma informação “y” sobre um assunto, sei lá, “b”. Hoje em dia, bastaria ligar o
computador e conseguir a informação em menos de dois minutos. Mas aí entra o
problema: temos a ferramenta, mas não existe mais o interesse. Exatamente
no momento mais maravilhosamente excitante de nossa jornada na Terra, quando as
facilidades tecnológicas aproximaram continentes e homens, esses seres curiosos
perderam completamente o interesse em aprender qualquer coisa. Senhoras se
limitam a passar seus dias compartilhando nas redes sociais fotos de bichinhos
fofos e notícias falsas, enquanto jovens divertem-se passando adiante correntes
bobas e aprimorando uma técnica que consiste em escrever propositalmente
errado, usando a desculpa de que é um artifício facilitador na comunicação pela
internet. Não leem livros porque falta tempo, o que é compreensível já que
passam dias inteiros enviando indiretas no Facebook ou narrando a
conhecidos e completos estranhos, pelo Twitter, episódios tolos do seu cotidiano.
A mesma ferramenta pode entregar, gastando os mesmos poucos segundos, uma obra literária
ou um aplicativo bobo, que você nem lembrará que usou daqui a algumas semanas.
Essa é a maior ironia de nosso tempo.
A desgraçada preguiça pode ser sentida também nos filmes de
terror, em que toda a criação elaborada de clima, estabelecendo os propósitos
dos personagens e seus conflitos, esquecidos em prol do imediatismo mastigado
dos efeitos, os sustos, esquecendo-se das causas. Qual o intuito de ler
trezentas páginas de uma obra da Agatha Christie, já que podemos abrir logo no
último capítulo e descobrir o assassino? Qual a razão de exercitarmos nosso
lado “arqueólogo”, descobrindo com prazer livros interessantes em sebos, já que
podemos posar momentaneamente como intelectuais para nossos amigos, dizendo que
estamos lendo a biografia do Steve Jobs, ou qualquer outro “livro da moda”, mesmo
que nunca tenhamos tido nenhum interesse na vida do biografado ou em seu ofício
antes de sua morte?
A sociedade dá valor aos TT´s no Twitter, sem
se importar que eles normalmente envolvam temas completamente irrelevantes. A cultura
da massificação ordinária infelizmente sobrepujou a elegância do
refinamento pessoal. Os “quinze minutos de fama” de um vídeo de dez segundos
onde um garoto mostra seu mamilo recebe enorme atenção e repercute
internacionalmente, enquanto vídeos sérios que tratam de temas importantes são
esnobados. A Sétima Arte reflete nossa sociedade com incrível
perfeição. Caso olhemos atentamente o panorama atual desta Arte, perceberemos
nossas recônditas fragilidades em cada problema que salientamos. A celebração
exagerada do 3D, a péssima qualidade dos recentes filmes de terror, a falta de
ousadia dos roteiristas, entre muitos outros. O espelho reflete apenas o que se
põe à sua frente, portanto sejamos mais criteriosos e respeitemos nossa curta
jornada nesta aventura fantástica e misteriosa chamada: Vida.
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