Nesse especial eu resgato nostalgicamente minhas lembranças
de infância nos anos 80, com os filmes da "Sessão da Tarde" e do
"Cinema em Casa", verdadeiros eventos para uma juventude que não
tinha internet e TV a cabo...
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Rambo 2 – A Missão (Rambo – First Blood, Part 2 – 1985)
“Eu morreria por ele (país). Eu quero o que eles (soldados
resgatados) querem. O que todo cara que veio até aqui, que se arriscou e que
deu tudo de si, quer. Que nosso país nos ame, tanto quanto nós amamos ele. É
isso que eu quero”.
Resposta de Rambo ao ter seu patriotismo questionado pelo
coronel Trautman.
Posso fechar os olhos agora, que irei escutar essa resposta
na íntegra, na voz do saudoso dublador André Filho. Eu assistia tantas vezes a
esse filme quando criança, que meu pai teve que eventualmente regravar, já que
a fita VHS enrolou dentro do aparelho. Costumava repetir as cenas com meus
bonecos dos “Comandos em Ação”, colocando um lutador asiático descamisado de
Artes Marciais pra interpretar o protagonista, pintando a fita branca da cabeça
dele de vermelho com caneta hidrográfica. Eu, como muitas crianças dos anos
oitenta, tive festa de aniversário temática com direito até a fantasia: faixa
vermelha na cabeça e metralhadora de plástico, com bandoleira de munição
atravessada no peito. Eu tinha também dois pôsteres enormes do filme no quarto,
o oficial de cinema em fundo preto e um de Sylvester Stallone empunhando seu
arco e flecha sobre uma rocha.
Na época em que começou a passar com frequência na “Sessão
da Tarde”, eu já não brincava mais de bonecos, mas era sempre um bom motivo
para relaxar dos deveres de casa, deitar no sofá e rir dos defeitos que eu não
percebia outrora. Eu sinceramente não considero um filme ruim, como muita gente
afirma, considero até um dos melhores da década de oitenta em seu gênero, com
várias sequências realmente empolgantes e uma trilha sonora impecável de Jerry
Goldsmith, que continuo escutando com o mesmo carinho. Engraçado que só fui
escutar a péssima canção “Peace in our Life”, cantada pelo Frank Stallone,
quando comprei o filme em DVD, na época de faculdade, já que a televisão nunca
passava os créditos finais. Hoje consigo visualizar o estilo eficiente de
direção de Stallone do início ao fim, fazendo com que eu tenha certeza de que o
inexpressivo diretor George P. Cosmatos tenha realmente sido um peão na
produção, função que ele possivelmente repetiu em “Tombstone”, em que Kurt
Russel teria sido o “ghost-director”.
A ação desenfreada é o elemento que todos recordam, mas eu
me conectava mais com a mensagem passada em cenas menores, quase sempre
esquecidas, como quando Rambo descobre que está sendo enviado para o Vietnã
apenas para tirar fotos. A troca de olhares entre o herói de guerra e seu
coronel, o único em quem ele realmente confia, com direito a um sorrisinho
debochado de Trautman (Richard Crenna). A relação de confiança entre os dois,
com o coronel sabendo, com indisfarçável orgulho, desde o início que seu amigo não
iria se curvar perante a tarefa burocrática e mentirosa a que estava sendo
submetido. Eu me conectava emocionalmente com esse sentimento. Era comum eu
utilizar como argumento em várias situações a resposta de Rambo para o asqueroso
personagem vivido por Charles Napier, quando ele exaltava as máquinas em
detrimento à habilidade humana: “Para mim, a mente é sempre a melhor arma”. Todo
o interlúdio romântico com a bela Julia Nickson, com direito ao triste monólogo
sobre ser alguém dispensável (antecipando o título da franquia “The Expendables”)
e a declaração de amor do herói ao seu facão, pode ser terrivelmente expositivo
e clichê, mas funcionava tremendamente bem para minha contraparte infantil.
Eu lembro que ficava muito triste quando o helicóptero
recusava-se a descer e resgatar o herói, imaginando com angústia se ele chegava
a cogitar que seu amigo estava de acordo com aquela traição. Era nesses
pequenos detalhes que minha mente infantil se prendia, muito mais que nas
explosões que tomavam praticamente todo o terceiro ato. Toda a sequência que
vai da prisão do herói até a fuga conquistada com a ajuda da agente Co Bao
(Nickson), emoldurada pela trilha “Escape from Torture”, de Goldsmith, considero
um exemplo de perfeição no gênero. O trovão que precede a clássica ameaça de
revide, os cortes rápidos, os planos detalhe, uma cena que estruturalmente não
ficou datada. Quando Rambo se preparava para a vingança, usando uma tira da
roupa da falecida mulher amada como bandana, eu apertava o nó da faixa vermelha
em minha testa. Era uma experiência sensorial, interativa, melhor que 3D.
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