domingo, 1 de junho de 2014

Faces do Medo - "Drácula" (1931) e "A Múmia" (1932)

Link para os textos do especial:


Drácula (Dracula – 1931)
A trama conta a história do advogado Renfield (Dwight Frye), que chega ao castelo do Conde Drácula (Bela Lugosi), na Transilvânia, para finalizar o contrato de aluguel de uma propriedade em Londres. Ele não sabe, mas seu nobre anfitrião é um vampiro. 


Bela Lugosi. Apenas esse nome já bastaria para indicar a importância dessa obra na história do cinema de horror. O primeiro filme falado a lidar com um tema sobrenatural, responsável por tornar o “Universal Studios” uma referência no gênero, superado apenas pela “Hammer”, décadas depois.

Como adaptação, possui falhas, como o fato de minimizar a personagem Lucy (Frances Dade), que se torna uma figura de decoração, e a equivocada alteração do Dr. Seward (Herbert Bunston), que se torna o pai da trágica Mina (Helen Chandler). O roteiro, no entanto, acerta com o personagem Renfield (Dwight Frye), que dá o pontapé inicial na trama (papel de Jonathan Harker, no original literário) transformando a esquisita caricatura imaginada por Bram Stoker em alguém tridimensional. Muitos críticos americanos afirmam, como elemento negativo, que o ritmo lento da narrativa se deve a uma maior fidelidade à peça teatral (iniciada em 1924) do que ao livro, mas é um pensamento equivocado. Mais de 40% da trama exposta no filme não existem na peça, como toda a sequência passada na Transilvânia, além de detalhes menores, como a viagem marítima do conde para a Inglaterra, um trajeto que ele percorre, na peça, de avião.

A direção de Tod Browning não envelheceu bem, assim como também não podemos ignorar alguns “buracos” (como a entrada de Van Helsing na trama), mas a fotografia de Karl Freund, trabalhando muito bem as sombras como ferramenta narrativa, estabelece o clima perfeito. É válido afirmar que o tempo foi mais generoso com a versão espanhola, dirigida por George Melford e protagonizada por Carlos Villarías, gravada ao mesmo tempo nos mesmos cenários, para o mercado latino, mas o charme e a atmosfera da versão americana continuam eficientes.


A Múmia (The Mummy - 1932)
Em 1921, uma equipe de arqueologistas no Egito, liderados por Sir Joseph Whemple, descobre a múmia do príncipe Imhotep, que vivera há 3.700 anos e que, por ter cometido um sacrilégio, teve como castigo ser enterrado vivo. 


É interessante analisar que, em seu tempo, a obra serviu como uma primária fonte de informação para a sociedade ocidental sobre o Egito antigo. Ele serviu como base para a visão que seria compartilhada por vários filmes similares ao longo dos anos. Assim como “King Kong”, mostra implicitamente a forma superior como os americanos enxergavam o Oriente, uma terra exótica, inferior e selvagem. 

O genial alemão Karl Freund, responsável pela fotografia de “Drácula” (e, anteriormente, “Metrópolis”, de Fritz Lang), foi escalado para dirigir a obra que teria a missão ingrata de manter a “Universal” no caminho da glória conquistada pelo já citado “Drácula” e “Frankenstein”. Ele chega a utilizar a mesma técnica de iluminar apenas os olhos, como forma de transmitir elegantemente a ameaça. Mais calcado no clima, que no “monstro” (vivido por Boris Karloff em conjunto com o excelente trabalho prostético de Jack Pierce), a produção ousou ao abordar um personagem que não havia se estabelecido no inconsciente coletivo do público na literatura, como os dois anteriores. Sem um molde para se basear, o roteiro segue em vários momentos a fórmula de “Drácula” (grande semelhança entre o “Dr. Muller” e o “Van Helsing”, por exemplo). O tempo foi generoso com o filme, sendo considerado hoje um dos melhores do ciclo de monstros do estúdio.

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