Desde 1892 que a exibição de desenhos em movimento entretém
o público. Sempre visando o divertimento rápido e despretensioso em pequenas
cenas, quase sempre de humor. Porém é impossível falar do gênero sem citar o
homem que pegou as barrocas ideias do teatro de sombras chinesas e transformou
em espetáculos mágicos, a notória Oitava Arte. Disney já exercitava
seu talento na década de 20, em curtas metragens e peças publicitárias, mas foi
no final da década de 30 que o jovem gênio elevou o nível do entretenimento
mundial ao arriscar realizar uma animação de longa metragem, quando na época
todos os críticos acreditavam que ninguém teria paciência de assistir um
desenho animado de longa duração nos cinemas.
Baseado em conto dos irmãos Grimm, “Branca de Neve e os
Sete Anões” estreou em 1937 com aclamação unânime de críticos e público do
mundo inteiro. Tal sucesso foi um reflexo do árduo trabalho da equipe técnica,
que demorou três anos para desenvolver o projeto, meticulosamente dando vida a
todos os aspectos que apareceriam em cena. Um trabalho hercúleo e que garantiu
um prêmio honorário da academia no ano seguinte, simbolizado por uma estatueta
do Oscar em tamanho natural e outras sete em miniatura. A obra também criou o
padrão Disney de fazer cinema: temas fantasiosos e com ensinamentos morais
junto a lindas canções. Como Walt mesmo simplificou anos depois: “Em meus
filmes, para cada risada, deve haver uma lágrima”. A fórmula de sucesso trouxe, em 1940, duas produções
lendárias. Em “Fantasia”, Disney ousou realizar uma combinação de animação
com as mais lindas composições clássicas em um épico de mais de duas horas. “Pinóquio”,
a clássica história do boneco de madeira que queria se tornar um menino de
verdade, obteve sua interpretação definitiva em uma animação mais bem acabada
que “Branca de Neve”, com uma canção que ultrapassou os limites da Arte, entrando
para a história da música mundial: “When You Wish Upon a Star”.
Nos anos seguintes, o mundo ficou conhecendo a linda
história do elefante “Dumbo” e a bela fábula sobre maturidade “Bambi”.
Após 1942, Disney entrou em uma maré de azar onde as bilheterias caíam
drasticamente filme após filme. São dessa época produções como: “Alô
Amigos”, “Você já foi a Bahia?”, “Tempo de Melodia” e “As
Aventuras de Ichabod e o Sr. Sapo”. As empresas Disney desmoronavam,
levando consigo o sonho de Walt e o futuro da animação no cinema. Em 1950,
assim como nos contos de fada, uma palavra mágica fez ressurgir o império
Disney das cinzas: Bibbidi-Bobbidi-Boo. A canção de mesmo nome foi
indicada ao Oscar e o filme “Cinderela” foi uma das maiores
bilheterias do ano. Além de ter sido indicado ao Leão de Ouro de Veneza, ganhando
o prêmio especial do público. O mestre novamente sorria de orelha a orelha, com
os sucessos que viriam nos anos seguintes: “Alice no País das Maravilhas”,
o maravilhoso “Peter Pan”, “A Dama e o Vagabundo” e a obra-prima “A
Bela Adormecida”.
A década de 60 principiava com uma pequena queda no lucro e
todos imaginavam se a empresa iria se restabelecer como antes. Obras como “101
Dálmatas”, “A Espada era a Lei” e “Mogli, o Menino Lobo” faziam
um sucesso mediano e nem de longe transmitiam o frescor e genialidade de
outrora. “Mary Poppins” pode ser considerada com justiça a melhor
produção da época, apresentando ao mundo a beleza e o carisma de Julie Andrews,
assim como canções que entraram para a história do estúdio (como "Supercalifragilisticexpialidocious").
Em 1966, o baque definitivo, a morte de Walt Disney deixava todos em alerta.
Como seriam as produções feitas após sua saída? Será que o legado Disney iria
resistir? Durante toda a década de 70 e 80, os desenhos da companhia foram
pálidas lembranças do que já haviam sido. Lançamentos inexpressivos nos
cinemas, produções preguiçosas, formulaicas em excesso: um pouco de drama, umas
canções nem sempre inspiradas e um genérico final feliz.
Enquanto isso, no outro lado do mundo, era criado um marco
na animação mundial: AKIRA (de Katsuhiro Otomo), uma obra violenta e
adulta. Parecia não haver mais espaço no mundo para os contos de fada e o
moralismo de Disney. Porém em 1989, algo novo mostrava-se no horizonte com o
lançamento de “A Pequena Sereia”. As músicas eram melhores e o roteiro
trazia uma jovialidade que fazia falta ao estúdio. Longe de ser perfeito,
o filme conseguiu fazer com que pessoas de todas as idades voltassem às filas
dos cinemas. O sucesso comercial da obra provou aos técnicos que havia público
para suas produções. Logo, começaram a idealizar a obra que trouxe de volta
toda a magia de seu criador e alcançou muito mais do que o próprio almejara no
passado. Em 1991 estreou a “A Bela e a Fera”. A linda fábula não
somente revolucionou no quesito técnico (ao incluir uma cena em computação
gráfica), como conseguiu a façanha de ser indicada ao prêmio de melhor filme no
Oscar. Isso sem falar na expressiva bilheteria, a terceira maior do ano. “Aladdin” (em
1992) tornou-se o filme mais bem sucedido do mundo (na época), rendendo 517
milhões nas bilheterias. A animação não só havia voltado com tudo, como também
quebrava preconceitos de críticos que ainda a viam como uma Arte menor. Obras
como "A Bela e a Fera" exalavam mais refinamento que muitas produções
tradicionais.
Mas nada preparava o mundo para o fenômeno cultural chamado “O
Rei Leão”. A trama que misturava influências de Hamlet, Bambi e temas
bíblicos, trouxe lágrimas aos olhos dos mais frios homens. O maior mérito foi o
de ser o primeiro na história da empresa com um roteiro original, não baseado
em contos de fada ou em clássicos da literatura. O projeto tornou-se o mais
lucrativo da história da Disney. O limite que dividia as animações dos filmes live
action havia sido destruído impiedosamente, fazendo com que os críticos se
curvassem perante o brilhantismo do filme, citando-o como uma das melhores
obras da década.
O futuro glorioso traria a maravilhosa parceria com os
estúdios Pixar, resultando em uma nova geração imersa nesse entretenimento de
alta qualidade.
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