Rastros (Pokot - 2017)
Cenas importantes como a do padre católico defendendo que
Deus fez os animais para serem subservientes aos homens, pensadas como
dramaturgia rasa de telenovela, filmadas sem qualquer sutileza, prejudicam um
filme que tenta desesperadamente transmitir sua mensagem nobre com imperdoável
didatismo. A solitária professora Janina, vivida por Agnieszka Mandat-Grabka, é
uma ativista pelos direitos animais que passa a investigar a origem misteriosa
de uma série de crimes que ocorrem na Polônia.
Como crítica à cultura da caça e aos dogmas religiosos, o
esforço é tremendamente válido, mas enfraquecido pela previsibilidade absurda
que envolve o desenvolvimento do roteiro e, especialmente, opções estéticas
como o foco nos olhos ou lábios dos personagens quando expressavam algo
asqueroso, recursos simplórios e desgastados. O ritmo se perde após os
primeiros trinta minutos, a experiência se torna bastante cansativa, a diretora
Agnieszka Holland parece não saber exatamente qual subtrama seguir.
“Rastros” não é competente enquanto suspense e a tentativa
de injetar um interesse romântico no momento mais equivocado é pífia, sem
qualquer relevância. Nas mãos dos irmãos Coen, este projeto até poderia
funcionar, mas nem mesmo a aura de fantasia que a diretora estabeleceu tão bem
em seu “O Jardim Secreto”, elemento presente no livro original de Olga
Tokarczuk, consegue ser emulada desta feita. O melhor trabalho de Holland
continua sendo “Eclipse de Uma Paixão”, de 1995.
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