O Poderoso Chefão (The Godfather - 1972)
O péssimo hábito de mastigar as informações para o público
brasileiro, sintoma de um nível educacional baixíssimo, transforma o título
original pleno em simbolismo, “O Padrinho”, em um genérico tolo e vazio como “O
Poderoso Chefão”. A opção elimina o leitmotiv da obra, o elemento mais
importante, o conceito de família, a carga emocionalmente intimista que dá o
tom do conflito entre a valorização da tradição e a importância de se adaptar
às mudanças, emoldurada perfeitamente pela valsa calorosa composta por Nino
Rota.
Don Vito Corleone (Marlon Brando) representa o crepúsculo de
uma era elegante, um homem que conduzia seus negócios com honradez, alguém que
conquistou o respeito dos adversários sendo fiel aos seus princípios. Ele é
apresentado no dia do casamento da filha, perceptivelmente desconfortável por
não poder dedicar tempo integral à cerimônia, já que estava recebendo alguns
convidados em seu escritório, parte de sua famiglia mafiosa. A escuridão realçada
na fotografia do mestre Gordon Willis reforça o contraste emocional. Na hora de
registrar o momento festivo, ele recusa a fotografia enquanto um de seus filhos
não está presente, Michael (Al Pacino), o caçula letrado que representava para
o pai a expectativa de um futuro limpo, socialmente agradável. Sonny (James
Caan), o filho mais velho, impulsivo e inconsequente, a opção óbvia para a
eventual substituição paterna, ainda que seu temperamento violento fosse o
prenúncio de uma tragédia anunciada. O rapaz chega com a namorada, Kay (Diane
Keaton), a fotografia familiar finalmente é preparada. Michael faz questão de
chamar a jovem para a foto, o que ela aceita com timidez, uma cena breve que
fala diretamente à sequência final, uma realidade totalmente diferente. No
livro de Mario Puzo, Michael é mostrado desde o início com as mesmas qualidades
do pai, algo que enfraquece o impacto da sua transição posterior. No filme,
Francis Ford Coppola inteligentemente opta por fazer dele um personagem
silencioso, enigmático, comportamentalmente imprevisível, muito mais
interessante.
Após sujar as mãos de sangue na fantástica cena do restaurante,
uma aula de atuação e construção de clima, ele é enviado por proteção para fora
do país, para longe da família e da namorada. Esse interlúdio idílico na Sicília
revela para o público a real natureza de Michael, a segurança com que negocia a
mão da bela Apollonia (Simonetta Stefanelli) com o pai da moça, a frieza
introspectiva que exibe no dia do casamento, a rápida resignação após
testemunhar o assassinato dela. Vito, ainda se recuperando da tentativa de
assassinato, rejeita a inclusão das drogas em seu sistema criminoso, ele não
quer se adaptar à certeza de podridão e selvageria que envolve os novos tempos.
Michael é a personificação dessa modernidade inescrupulosa, o roteiro insere um
elemento novo com sua ascensão para firmar a transição, a traição de um membro
da própria família, o cunhado que se vinga de Sonny, que apenas defendia sua
irmã Connie (Talia Shire) das frequentes agressões enquanto estava grávida. O
declínio dos valores familiares, a beleza na morte de Vito ao brincar com o
neto pequeno, dando lugar ao surgimento de um monstro insensível que descarta o
diálogo, preferindo eliminar os adversários na inesquecível sequência do
batismo do afilhado intercalando com as mortes.
É uma trama sobre mafiosos, até mesmo as figuras que
representam a lei são corruptas, mas o espectador se afeiçoa aos personagens, o
filme é um dos mais queridos mundialmente. A razão? Não há sequer um ato de
maldade cometido contra qualquer pessoa que não esteja envolvida na máfia. Os
Corleone são um microcosmo que, apesar de toda a violência inerente às suas
operações, fala diretamente à essência de todo relacionamento humano. Todo
mundo lembra da cena da cabeça ensanguentada do cavalo na cama, ou da execução
de Sonny no pedágio de estrada, mas o coração de “O Padrinho” reside no triste
desfazer de laços familiares. Não é coincidência que o filme termine exatamente
evidenciando a mentira de Michael no escritório, o falso conforto de Kay, a
constatação de que não há mais privacidade para o casal, o distanciamento
irreversível, a porta que se fecha entre eles.
Sou fascinado por este filme,mostra a verdadeira alma do povo italiano,o grande respeito pela familia a proteçao dos negocios uma grande obra de coppola.
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