Os Oito Odiados (The Hateful Eight - 2015)
Até mesmo na pior das hipóteses, nunca achei que iria me
referir ao trabalho de Tarantino com esse adjetivo, mas, sim, “Os Oito Odiados”
é um filme entediante. Um grandioso vazio costurado com toques do estilo
característico do diretor, um olhar reverente aos clássicos do gênero (especialmente
“Quadrilha Maldita”, de 1959) em sua apresentação (desde o nome do personagem
de Samuel L. Jackson, uma espécie de Hercule Poirot do Velho Oeste, homenagem
ao obscuro diretor de westerns: Charles Marquis Warren), porém, um olhar
cansado, sem paixão. Diálogos previsivelmente longos em excesso, com aquela
esperteza infantil de garoto irônico de condomínio de luxo tentando chocar os
pais, traço recorrente em suas últimas obras, sendo defendidos por personagens
caricaturais desinteressantes, em suma, uma aula de como desperdiçar um ótimo
elenco. Os defeitos não são novidade, “Django Livre” também era protagonizado
por tiras de cartolina ambulantes, mas, pela primeira vez, os defeitos estão
inseridos em um todo que falha terrivelmente como entretenimento, não há
diversão, com exceção de alguns bons momentos breves. O apelo para revisão é
praticamente nulo.
O primeiro ato, uma longa hora, é uma piada curta e fraca contada
por um gago, sem timing, sem ritmo, um fiapo de narrativa estendida ao nível do
insuportável, com a trilha sonora original de Ennio Morricone, em tom épico,
contrastando claramente com o blá-blá-blá unidimensional que está sendo
executado. A trama é tão chata que me peguei, no meio de uma cena teoricamente
importante, onde eu já deveria estar imerso nos conflitos em jogo, analisando
como Tim Roth estava descaradamente emulando os trejeitos de Christoph Waltz. A
ultraviolência que domina o terceiro ato, outra marca do diretor, aparece nesse
caso como um bem-vindo despertador, ainda que sirva apenas como barulho, já que
sequer havia memorizado os nomes dos personagens e suas funções. Vale salientar
que, em um período de discussão sobre a representatividade da mulher na
indústria, com protagonistas cada vez mais interessantes, não dá pra ficar incólume
ao tratamento dado pelo roteiro à Daisy, vivida por Jennifer Jason Leigh,
vítima de todo tipo de brutalidade, um saco de pancadas que resiste a tudo sem
perder o olhar desafiador. Uma personagem forte ou uma masoquista inveterada? Pelo
roteiro raso, não dá pra formar uma opinião.
A opção pela restrição do espaço cênico, algo que sempre aplaudo
em um roteiro, peca por funcionar apenas como um ambiente reduzido onde os
personagens trocam diálogos redundantes e sem impacto narrativo. Não basta enfiar
vários personagens em uma pequena sala de júri, “12 Homens e Uma Sentença” é
brilhante por ter um roteiro inteligente que conseguiu, em menos da metade do
tempo desse faroeste, criar tensão e tornar relevantes aqueles doze homens.
Tarantino foi incompetente a ponto de não conseguir criar tensão e dar
relevância aos seus oito. É curiosa a opção pela fotografia em 70 mm, com
lentes anamórficas que prometem uma exploração maior com profundidade de campo
e cenários amplos, elementos que não combinam com um filme de câmara passado quase
que todo em uma cabana, local onde os personagens ficam isolados durante a
maior parte do tempo. Argumentar que o escopo da imensa razão de aspecto
favorece qualquer coisa nesse cubículo escuro é forçar a barra, querer enxergar
desenhos em nuvens. Quanto mais eu penso sobre a trama, pior ela fica, uma
grande bobagem.
Há um tremendo potencial no projeto, que poderia aprofundar
a alegoria da cabana como uma representação dos Estados Unidos, algo que a frequentemente
mencionada carta de Lincoln e a letra da canção dos créditos-finais, cantada
por Roy Orbison, parecem evidenciar, porém, não dá pra afirmar que é uma
metáfora executada de forma eficiente, já que depende da tremenda boa vontade
do crítico em suportar o tédio e fechar os olhos para todos os problemas, preenchendo
lacunas, procurando desesperado alguma réstia de luz. O filme, fraca inclusão na filmografia de
Tarantino, não merece tanto escrutínio.
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