O Ponteiro da Saudade (The Clock – 1945)
Joe (Robert Walker) é um jovem soldado que tem apenas dois
dias de licença e vai passá-los em Nova York. Lá, conhece Alice (Judy Garland),
uma secretária por quem se apaixona. Correndo contra o tempo, eles tentam se
casar.
Essa joia pouco comentada de Vincente Minnelli é um dos
romances mais adoráveis da década de quarenta. Simples em sua estrutura, porém,
extremamente eficiente. Emoldurada pela fotografia elegante de George Folsey,
Judy Garland exala encantamento em seu primeiro papel dramático, transmitindo
camadas de emoção através de pequenos gestos, como quando consegue insinuar uma
ousada sensualidade, em uma cena de beijo, com apenas um movimento sutil de
sobrancelha. Um amor que nasce, em tempo de guerra, como uma tentativa de
manter a ingenuidade da juventude. Os sons da cidade grande, com seus edifícios opressivos, os sinais da mudança iminente.
A trama esconde por trás de uma névoa de fantasia romântica
algumas críticas sociais interessantes. Destaco toda a sequência da tentativa
de casamento, com o casal buscando a satisfação ilusória naquele ritual. Quando
o noivo se dá conta de que não se lembrou das alianças, numa cerimônia
realizada às pressas e ao lado de uma janela aberta, em uma rua barulhenta, tentando
escutar o que o juiz está dizendo, o roteiro evidencia o quão vazio é aquele
espetáculo. O precioso tempo que era tão escasso para o casal, sendo
desperdiçado em tom de caricatura. A forma como os dois passeiam por vários
pontos importantes de Nova York, como o Central Park e o Museu de Arte, extravasando
verbalmente a angústia do tempo que se esvai, acabou me remetendo ao “Antes do
Amanhecer”, de Richard Linklater. Como se os personagens tentassem imprimir
naqueles locais a essência daquele encontro, para que, no futuro, separados no
tempo e espaço, pudessem ser identificáveis nos rostos sorridentes de casais
estranhos.
* O filme está sendo lançado em DVD pela distribuidora “Obras-Primas
do Cinema”.
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