O Gato de Nove Caudas (Il Gatto a Nove Code – 1971)
Um repórter e um jornalista cego aposentado tentam resolver
uma série de assassinatos e acabam se tornando alvos do assassino.
Esse é o meu favorito da Trilogia dos Animais, peças
fundamentais no giallo, com o diretor demonstrando tremenda evolução em seu
segundo trabalho, uma maior segurança em seu estilo, marcado pela utilização
generosa da câmera subjetiva, representando o ponto de vista do assassino,
transformando ele em um caçador urbano que persegue suas vítimas de forma quase
animalesca, referência intensificada no uso constante de planos de detalhe no
olho do assassino. Após “O Pássaro das Plumas de Cristal”, Argento ousa quebrar
alguns paradigmas estabelecidos por ele mesmo no anterior, minimizando a
violência, potencializando o impacto das cenas com truques de edição, seguindo
os ensinamentos do mestre Alfred Hitchcock. Destaco aqui a fantástica sequência
do ataque na estação ferroviária, o ponto alto do filme, que contém uma mordaz
crítica ao culto das celebridades, já que toda a comoção pública com a tragédia
é interrompida e esquecida, minutos depois, quando uma atriz famosa desce do
trem. A parceria entre o jornalista cego (Karl Malden) e o repórter (James
Franciscus), além de funcionar pela ótima química dos atores, é favorecida
também pela presença da pequena e adorável neta do jornalista, tão inteligente
quanto os dois, inserindo doçura e um toque de conto de fadas sombrio ao
produto final.
Terror na Ópera (Opera – 1987)
Uma jovem soprano é perseguida por um assassino doentio
durante a montagem da ópera “Macbeth” em Milão.
Argento cria aqui sua última obra-prima, uma declaração muito
pessoal de amor à arte, ao inserir elementos de terror nesse giallo com toques
de “O Fantasma da Ópera”, de Gaston Leroux, um tema muito querido pelo diretor.
É fascinante perceber a conexão entre as árias utilizadas na trilha e as sequências
emolduradas por elas, algo que eleva exponencialmente a qualidade da obra e,
especialmente para os amantes de ópera, grupo em que me incluo, a sua
eficiência em revisões. Ao usar a oração de paz, a ária mais famosa de “Norma”,
de Bellini, como pano de fundo para a cena em que a jovem, escondida em seu
apartamento, tenta sobreviver ao ataque do assassino, o roteiro nos coloca na
pele do povo que, confrontando a paz desejada pela personagem na ópera, busca aos
gritos os deuses da guerra. O público do giallo quer ser surpreendido com cenas
de assassinato mais criativas, ele quer ver sangue. É uma metáfora muito sutil,
uma demonstração de inteligência e, acima de tudo, sensibilidade. E, reforçando
essas qualidades, nos momentos mais violentos, somos presenteados com um heavy
metal, som totalmente alienígena no contexto já estabelecido, provocando um
despertar sensorial. Vale destacar também a excelente sequência em que Argento
utiliza sua usual câmera subjetiva em um complexo sistema de gruas e guindastes,
para nos colocar no lugar dos corvos em voos rasantes dentro do teatro.
* Os filmes estão sendo lançados em DVD pela distribuidora
Versátil na caixa “A Arte de Dario Argento”, com exclusividade pela Livraria
Cultura, contendo também, além de ótimos extras, os filmes: “O Pássaro das
Plumas de Cristal” e “Quatro Moscas Sobre Veludo Cinza”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário