quarta-feira, 23 de setembro de 2015

"Na Natureza Selvagem", de Sean Penn


Na Natureza Selvagem (Into The Wild – 2007)
Como é simbólica a breve cena que mostra o posicionamento correto dos garfos na mesa. Qual a razão de haver um posicionamento correto para garfos em uma mesa? A angústia dos pais, que prezam acima de tudo o status da família, ao perceberem que o filho não vê necessidade de trocar seu carro antigo por um novo. Os rituais, a teatralidade que esconde a hipocrisia, a formação universitária em uma função profissional que não interessa ao estudante, válida apenas por ser uma garantia de conforto financeiro no futuro. Qual noção de conforto? O executivo que veste a gravata apertada no andar mais alto de sua empresa daria tudo para estar, por alguns momentos, admirando o pôr do sol na beira do mar.

Em vários momentos chegamos a falar abertamente com o personagem: Já está bom, você conseguiu se afastar da presença opressiva e psicologicamente danosa dos pais, encontrou um porto seguro na figura de estranhos, o casal de hippies, o idoso gentil e carente, até mesmo uma jovem apaixonada. Agimos exatamente como esses personagens, procurando entender o que motiva o rapaz a seguir desatando laços, esse desejo insaciável pelo isolamento. Emile Hirsch, que vive Chris McCandless, facilita esse investimento emocional com sua atuação, captando muito bem os extremos da aventura existencial desse recém-formado, que decide viajar sem rumo pelos Estados Unidos em busca de uma subjetiva noção de liberdade. Ele consegue superar as tentações sociais, como o roteiro transmite na boa sequência em que o jovem vislumbra uma versão alternativa de sua realidade, o escravo da ganância em modelo industrial, com sorrisos e maneirismos calculados para satisfazer a imagem que os outros projetam nele.

A estrutura do filme pode ser confusa, porém, parece pensada exatamente com o intuito de fugir do melodrama comum. O diretor Sean Penn, com mão segura, busca uma conexão fragmentada, ajudado pela fotografia de Eric Gautier, uma emoção despertada mais pela constatação da coragem e do amadurecimento do protagonista, ao invés da lágrima que seria vertida facilmente na opção pela linearidade nessa bonita história real. Gosto também de como a trama evidencia a importante transformação daqueles que conhecem o rapaz na jornada, verdadeiramente tocados por aquele andarilho enigmático.

E, o elemento mais importante, o roteiro não faz do personagem um herói, muito pelo contrário, sublinha a irresponsabilidade inerente à sua decisão e, acima de tudo, no poderoso desfecho, a conscientização do erro cometido. O ser humano não precisa dos rituais, mas, sem dúvida, precisa ser humano. A solidão de Chris, seu calvário autoimposto. A lição foi aprendida da maneira mais dura, o “Alasca” que ele buscava com sua inconsequente arrogância adolescente, o objetivo primordial, era a compreensão da necessidade do perdão. 
Comentários
1 Comentários

Um comentário:

  1. Eu acho que haviam dois extremos, um, como você falou, era a necessidade de status da família, e o outro era a falsa liberdade que ele pensou que ia encontrar com a solidão.
    No meio disso tudo, ele poderia, não vou nem dizer ter encontrado, porque ele encontrou, ter optado por outro caminho.

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