Quem acompanha meu trabalho há mais tempo sabe que, durante
quatro anos, com brevíssimos hiatos em épocas festivas, escrevia dois textos
semanais de temática social/política em minha extinta coluna no site da
jornalista Anna Ramalho. Eu era constantemente convidado para repercutir esses
assuntos em programas de rádio, os textos batiam recordes de acessos e eram
muito compartilhados. Quando releio, percebo que abordei praticamente todos os
absurdos que ocorreram nesse longo período, sempre tentando apertar o dedo na
ferida, provocar a reflexão. E, de uns tempos pra cá, alguns leitores estão me
questionando sobre a razão de eu ter decidido me focar mais nos textos sobre
cinema, minha área de atuação, deixando um pouco de lado essa verve mais
contundente. Acho que hoje, Sete de Setembro, é um ótimo dia para revelar esses
motivos. Eu cansei. O desabafo não inspira o ser humano a realizar gestos
nobres, ele apenas se reconhece no reflexo do espelho e segue seu caminho.
O único elemento que verdadeiramente tem o potencial para
inspirar modificações estruturais no ser humano é a Arte, a literatura, o
cinema, a música, o interesse constante em aprimorar sua cultura. A delicadeza
e a elegância são mais fortes que a espada do ódio. E, por mais problemas que
nossa nação esteja acumulando, a culpa não reside nos ombros do sistema, do
governo, do outro. O povo, o conjunto de indivíduos, é o responsável pelo
sistema, que apenas reflete atualmente em seu vidro embaçado o completo desinteresse,
a preguiça intelectual de adultos psicologicamente infantilizados que, com
raras exceções, aceitam desperdiçar suas vidas em profissões que não suportam,
perseguindo cegamente rituais sociais desgastados e incansavelmente buscando a
aprovação enquanto produto padronizado de uma indústria falida.
A espada de ódio levantada apenas convoca esse povo para uma
guerra que já foi perdida. O amor e o genuíno interesse de um adulto que
compreende a importância da parentalidade responsável, a nobreza de um jovem
que valoriza mais a leitura de um livro, a sorte da criança que é estimulada a
colocar sua criatividade em ação, ao invés de se aprisionar nas telinhas dos
tablets. Esses indivíduos podem modificar o sistema em longo prazo. Eu não
posso dedicar mais tempo alimentando o conformismo daqueles que querem apenas
chafurdar na lama da autocomiseração, tolos que ainda discutem política como se
vivessem em uma revista em quadrinhos ambientada em um universo sem tons de
cinza, com o herói e o vilão desenhados em tintas fortes caricaturais. Peões
facilmente manipulados, joguete dos espertos, que defendem com agressividade um
sistema podre e, que, obviamente, só pode fazer nascer de seus galhos frutos
doentes.
Não temos absolutamente nada a comemorar no dia de hoje,
estamos vivendo um período vergonhoso. Não basta ir às ruas fazer carnaval fora
de época, gritando palavras de ordem, quando a engrenagem interna não é
substituída. A revolução não será televisionada, ela ocorre no silêncio do
quarto de um indivíduo que, contra todas as probabilidades e sem estímulo algum
do sistema, decide ser alguém melhor. E o único combustível, a inspiração mais
eficiente para esse tipo de mudança estrutural reside na cultura, em todas as
suas vertentes. Agora precisamos que o ser humano dê o próximo passo em sua evolução.
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