A Incrível Suzana (The Major and The Minor – 1942)
Susan Applegate é uma jovem que se fartou da vida em Nova
Iorque, e que regressa para a sua casa no Iowa. Como a sua poupança, feita ao
longo do tempo, não é suficiente para pagar a passagem de volta, ela
disfarça-se de menina de doze anos para poder comprar meia-passagem. Mas, as
suas complicações começam mesmo quando ela divide um compartimento com Kirby,
um major do exército.
A estreia de Billy Wilder em Hollywood, no filme que
serviria de molde para um dos maiores sucessos de Jerry Lewis e Dean Martin: “O
Meninão”. A trama, como quase todas na carreira do diretor, esconde uma alta
dose de anarquia e ousadia, por trás do véu da ingenuidade de uma comédia
romântica. Colocando a censura do “Código Hays” para brincar de “bobinho”, com
um roteiro que aceitava a possibilidade de uma mulher com as belas pernas
torneadas de Ginger Rogers, na melhor interpretação de sua carreira, numa
improvável situação de desespero, fazer todos pensarem que ela era uma inocente
criança com laços de fita no cabelo. Na relação dela com a jovem irmã (Diana
Lynn) da esposa do Major Kirby (Ray Milland, com quem trabalharia novamente no
ótimo “Farrapo Humano”), percebemos Wilder, com o auxílio de Charles Brackett,
em sua zona de conforto, divertindo-se ao elaborar diálogos irônicos que
continuam surtindo o mesmo efeito, ainda que com os pés firmes em sua época
(Greta Garbo é alvo de uma das melhores tiradas, logo no início do filme). Ele
novamente trabalharia o conceito da farsa/disfarce como catalisador dramático,
no excelente “Quanto Mais Quente Melhor”.
Carrossel da Esperança (Jour De Fête - 1949)
Uma vez por ano, uma feira traz atrações para um pequeno
vilarejo no centro da França, como um cinema ambulante e músicas, transformando
a rotina e a vida dos moradores do lugar.
Excelente oportunidade de assistir um gênio em seu primeiro
trabalho, experimentando com seu estilo autoral, alcançando diversos pontos
onde, mesmo passados mais de 50 anos, com um humor puramente visual, diverte
sem o menor esforço. São várias cenas que poderia destacar, como todas em que o
carteiro (vivido por Jacques Tati), buscando emular a competência dos carteiros
americanos (ótima crítica), corre com sua bicicleta para entregar as
correspondências das formas mais estapafúrdias. Quando ele adentra a casa de um
homem, elogiando-o por sua animação, sem saber que o mesmo estava velando um
cadáver (excelente trabalho de câmera), não tem como segurar a gargalhada. São
cenas simples, mas engenhosamente elaboradas, onde cada elemento de cena existe
por um propósito. O filme foi originalmente filmado com duas câmeras, uma em
preto e branco (caso algo desse errado), outra em cores (que era a prioridade
do diretor). Com a falência da Thomson-color, antes do término da
pós-produção, Tati foi obrigado a lançar seu projeto em preto e branco.
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