A Vontade de Um General (Uomini Contro – 1970)
Francesco Rosi quase nunca é citado em listas de grandes
diretores, porém seu conjunto de obra é espetacular, tendo influenciado nomes
como Oliver Stone, Costa-Gavras e Gillo Pontecorvo, além de ser citado com muita
admiração por Francis Ford Coppola e Martin Scorsese. Escolhendo adaptar o
livro “Un anno sull'altipiano”, de Emilio Lussu, o diretor une o contundente
discurso do autor, denunciando a insanidade da guerra, com uma análise pessoal
sobre as relações de poder em grupos masculinos, corajosamente afrontando a
clareza política e questionando o intervencionismo.
Tudo lindamente emoldurado pela fotografia de Pasqualino De
Santis (que faria no ano seguinte “Morte em Veneza”, de Visconti), criando
momentos inesquecíveis como a marcha dos soldados pela fumaça das bombas e,
especialmente, a noite azulada iluminada pelas explosões na guerra de
trincheiras. A trama aborda o desespero de soldados desmoralizados, guiados por
um general (vivido por Alain Cuny) disposto a sacrificar seus homens até mesmo
em situações desnecessárias, por simples capricho egocêntrico. O motim é
questão de tempo, quando os pregos que mantém funcionando a engrenagem
monstruosa e estúpida da guerra, acabam tendo a consciência de que a morte é
uma condição mais digna do que aquela realidade sub-humana de existência.
Ao Cair da Noite (Les Bijoutiers du Clair de la Lune – 1958)
No filme, Brigitte Bardot vive uma adolescente que acaba de sair de um
convento e vai morar com sua tia e seu violento marido. Com o tempo, descobre
que sua tia está tendo um caso com o mesmo jovem (vivido por Stephen Boyd) que
havia lhe arrebatado o coração à primeira vista. A trama, que não deixa nada a
dever aos melodramas de Douglas Sirk, possui mais méritos do que os críticos costumam citar ao analisarem o filme. A câmera parecia estar apaixonada por ela e a buscava em
cena, sempre com uma atitude voyeur, brindando os espectadores com
relances reveladores de seu corpo. Roger Vadim, que casou com ela após cortejá-la
desde que ela tinha quinze anos de idade, criava os filmes como forma de
apresentá-la ao mundo. Eram meros veículos para propagar aos quatro ventos a
beleza de sua musa.
Uma cena em particular me surpreendeu
positivamente: uma troca de olhares entre Bardot, Boyd e a tia, vivida por
Alida Valli, logo após a morte do personagem vivido por José Nieto. O subtexto
é transmitido de forma brilhante. Vários sentimentos se chocam, como o amor
reprimido da personagem de Bardot ao descobrir o secreto romance entre sua tia
e Lamberto (Boyd). Não sou fã do diretor, mas nesta cena ele provou ter
talento. Já Bardot, que nunca considerei uma grande atriz, conseguiu ao final
dessa sessão me fazer relembrar as razões que a tornaram um símbolo da
sensualidade mundial. Nem Bob Dylan resistiu ao seu charme, tendo dedicado sua
primeira canção à musa francesa. A realidade é que Bardot conseguiu domar até
mesmo Godard, que a dirigiu no excelente “O Desprezo” (Le Mépris – 1963). O
controverso diretor não pediu para ela interpretar a personagem Camille, mas
sim que Camille se tornasse Bardot.
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