terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Harold Ramis (1944 - 2014)


Você pode ler textos genéricos sobre a morte de celebridades em qualquer veículo jornalístico, com um resumo de sua obra e algumas informações básicas para apresentar o trabalho do artista àquele que sequer o conhecia. Tenho uma atitude diferente ao tratar desse tema delicado, pois somente me pronuncio textualmente quando a obra do artista em questão suscita em mim alguma boa recordação. Não vou simplesmente “copiar e colar” o currículo de alguém e inserir ao final um “Descanse em Paz”, ou algo do gênero. Cinema é paixão. E eu fiquei muito comovido com o falecimento de Harold Ramis.

Meu primeiro contato com sua obra foi por volta de meus cinco anos, com o maravilhoso “Os Caça-Fantasmas” (dirigido por Ivan Reitman). Meu pai tinha gravado de uma exibição na Rede Globo, uma fita VHS que devo ter assistido mais de 50 vezes somente naquele ano, então sempre que fecho os olhos e me recordo dele, escuto a voz do dublador Jorge Barcellos. E que dublagem espetacular essa dos estúdios BKS, com Ézio Ramos captando perfeitamente a ironia de Bill Murray. Um detalhe que sempre me faz rir, aquelas coisas típicas de criança, foi como uma pequena cena protagonizada por Ramis no filme, fez com que eu levasse minha mãe a se aventurar em vários supermercados do bairro. O momento em que seu personagem, Egon Spengler, utiliza um bolinho Twinkie (não sabia o nome na época) para explicar sua teoria sobre energia psicocinética. Eu sentia uma fome absurda naquela cena de alguns segundos, minha boca salivava. Só descansei quando minha mãe chegou um dia em casa com alguns bolinhos “Ana Maria”, que devorei após imitar várias vezes aquela cena, já que sabia de cor a fala dublada. Anos depois, após o lançamento de “Os Caça-Fantasmas 2”, que não me cativou tanto quanto o original, comecei a ser chamado de Egon por alguns colegas de classe, já que era nerd e usava óculos. Eu nunca me incomodei, até imitava a forma dele falar. Meu sonho de consumo na época era ter uma mochila de prótons, mas o máximo que consegui foram os bonequinhos dos personagens. O “Stay Puft” sobreviveu à infância exploradora de minha irmã menor e deve estar em algum lugar da casa.

Já na adolescência, descobri que ele havia dirigido duas de minhas comédias favoritas: “Feitiço no Tempo” e “Férias Frustradas” (com roteiro do genial John Hughes). Só de saber que aquela figura tão presente em minha infância estava no comando daquelas produções, tornava-as ainda mais fascinantes. Na infância era comum sonhar que eu era amigo do trio Ramis/Aykroyd/Murray, tendo participado de várias conversas hilárias nos degraus da Universidade de Columbia, como na cena em que Stantz (Aykroyd) compartilha uma cerveja com Peter Venkman (Murray). Por alguma razão, sempre imaginava os três discutindo sobre paranormalidade naquele local. E, durante o tempo do sonho, eu era um membro da equipe respeitado por eles. Acordava e já colocava o VHS para rodar, pois sentia saudade daqueles amigos. Um deles faleceu ontem, uma parte indelével da minha infância. Obrigado, Harold Ramis.  
Comentários
1 Comentários

Um comentário:

  1. E, Octavio, não é que você de óculos, lembra mesmo uma mistura de Clark Kent com Egon Spengler? rs

    Mas falando sério agora, também fiquei um tanto abalado com a notícia da morte de Ramis; não só por ainda considerá-lo "novo" (tantos atores hoje passam dos 80 anos saudavelmente e fazendo vários filmes), como principalmente, por ele ter lutado tanto para fechar Os Caça-Fantasmas numa trilogia! Lembro que a notícia dos primeiros roteiros (ou das primeiras páginas de roteiro) escritos pelo próprio Ramis já rondava por Hollywood, entre os bastidores nas mãos de seus colegas mais próximos... mas, infelizmente, por rejeições de uns e atrasos no elenco, o terceiro filme não saiu e agora, mesmo que saia como uma "homenagem" não terá mais a mesma graça e a mesma magia... pelo menos, ele nos deixou um pequeno legado não só como o inesquecível Dr Egon Spengler, como nos deu uma aventura memorável de uma família chamada Griswold e de um dia que se repetia na vida de um repórter.

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