Você pode ler textos genéricos sobre a morte de celebridades
em qualquer veículo jornalístico, com um resumo de sua obra e algumas
informações básicas para apresentar o trabalho do artista àquele que sequer o
conhecia. Tenho uma atitude diferente ao tratar desse tema delicado, pois
somente me pronuncio textualmente quando a obra do artista em questão suscita
em mim alguma boa recordação. Não vou simplesmente “copiar e colar” o currículo
de alguém e inserir ao final um “Descanse em Paz”, ou algo do gênero. Cinema é
paixão. E eu fiquei muito comovido com o falecimento de Harold Ramis.
Meu primeiro contato com sua obra foi por volta de meus
cinco anos, com o maravilhoso “Os Caça-Fantasmas” (dirigido por Ivan Reitman).
Meu pai tinha gravado de uma exibição na Rede Globo, uma fita VHS que devo ter
assistido mais de 50 vezes somente naquele ano, então sempre que fecho os olhos
e me recordo dele, escuto a voz do dublador Jorge Barcellos. E que dublagem
espetacular essa dos estúdios BKS, com Ézio Ramos captando perfeitamente a
ironia de Bill Murray. Um detalhe que sempre me faz rir, aquelas coisas típicas
de criança, foi como uma pequena cena protagonizada por Ramis no filme, fez com
que eu levasse minha mãe a se aventurar em vários supermercados do bairro. O
momento em que seu personagem, Egon Spengler, utiliza um bolinho Twinkie (não
sabia o nome na época) para explicar sua teoria sobre energia psicocinética. Eu
sentia uma fome absurda naquela cena de alguns segundos, minha boca salivava.
Só descansei quando minha mãe chegou um dia em casa com alguns bolinhos “Ana
Maria”, que devorei após imitar várias vezes aquela cena, já que sabia de cor a
fala dublada. Anos depois, após o lançamento de “Os Caça-Fantasmas 2”, que não
me cativou tanto quanto o original, comecei a ser chamado de Egon por alguns
colegas de classe, já que era nerd e usava óculos. Eu nunca me incomodei, até
imitava a forma dele falar. Meu sonho de consumo na época era ter uma mochila
de prótons, mas o máximo que consegui foram os bonequinhos dos personagens. O “Stay
Puft” sobreviveu à infância exploradora de minha irmã menor e deve estar em
algum lugar da casa.
Já na adolescência, descobri que ele havia dirigido duas de
minhas comédias favoritas: “Feitiço no Tempo” e “Férias Frustradas” (com
roteiro do genial John Hughes). Só de saber que aquela figura tão presente em
minha infância estava no comando daquelas produções, tornava-as ainda mais
fascinantes. Na infância era comum sonhar que eu era amigo do trio
Ramis/Aykroyd/Murray, tendo participado de várias conversas hilárias nos
degraus da Universidade de Columbia, como na cena em que Stantz (Aykroyd)
compartilha uma cerveja com Peter Venkman (Murray). Por alguma razão, sempre
imaginava os três discutindo sobre paranormalidade naquele local. E, durante o
tempo do sonho, eu era um membro da equipe respeitado por eles. Acordava e já
colocava o VHS para rodar, pois sentia saudade daqueles amigos. Um deles
faleceu ontem, uma parte indelével da minha infância. Obrigado, Harold Ramis.
E, Octavio, não é que você de óculos, lembra mesmo uma mistura de Clark Kent com Egon Spengler? rs
ResponderExcluirMas falando sério agora, também fiquei um tanto abalado com a notícia da morte de Ramis; não só por ainda considerá-lo "novo" (tantos atores hoje passam dos 80 anos saudavelmente e fazendo vários filmes), como principalmente, por ele ter lutado tanto para fechar Os Caça-Fantasmas numa trilogia! Lembro que a notícia dos primeiros roteiros (ou das primeiras páginas de roteiro) escritos pelo próprio Ramis já rondava por Hollywood, entre os bastidores nas mãos de seus colegas mais próximos... mas, infelizmente, por rejeições de uns e atrasos no elenco, o terceiro filme não saiu e agora, mesmo que saia como uma "homenagem" não terá mais a mesma graça e a mesma magia... pelo menos, ele nos deixou um pequeno legado não só como o inesquecível Dr Egon Spengler, como nos deu uma aventura memorável de uma família chamada Griswold e de um dia que se repetia na vida de um repórter.