terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

O Encanto Eterno de Shirley Temple


Quando eu era criança, lembro-me de ter assistido na televisão, em uma véspera de Natal, aquele que considero um dos melhores filmes infantis de todos os tempos: “Heidi”, dirigido por Allan Dwan em 1937, com a inesquecível Shirley Temple. Com sua morte, assistindo a cobertura televisiva, peguei-me recordando de como era gostoso assistir os filmes dela nas reprises de “Sessão da Tarde”. 

Eu não era nascido na época dos “Batutinhas”, então ela era a única protagonista infantil que eu conhecia. Séries como “Super Vicky” e “Punky” somente foram transmitidas por aqui no finalzinho da década de 80. Ainda iria demorar alguns anos para que eu vibrasse com as aventuras de “Os Goonies”. Então, durante uma breve fase da minha infância, Shirley Temple era a única protagonista que eu conhecia que tinha mais ou menos a minha altura. Desconhecia totalmente o contexto em que estava inserida, mas o que me importava era que, independente dos percalços que ela sofria nas tramas, sempre havia a garantia daquele sorriso contagiante no final.

Hoje, como forma de homenageá-la, eu revi após muitos anos o belo: “Heidi”. Baseado no clássico romance infantil de 1880, escrito pela autora suíça Johanna Spyri, Temple interpreta uma jovem órfã que é enviada para viver com seu avô rabugento (Jean Hersholt) em sua cabana isolada nos Alpes. O avô inicialmente, tomado por forte amargura, evita se apegar à menina. Claro que a resistência dura pouco tempo. Grande parte do melodrama soa piegas e datado, como já esperava, mas é impossível resistir aos encantos da menina de cachinhos dourados. E, por mais que ela tenha se mantido atuando durante a adolescência em bons filmes, como no drama de guerra “Desde que Partiste” (1944) e no faroeste “Sangue de Heróis” (1948, sob o comando de John Ford), Temple está imortalizada em sua contraparte infantil. 

Ela foi uma ferramenta industrial projetada meticulosamente e explorada pelos produtores na época da Grande Depressão, onde os americanos precisavam ter esperança e acreditar novamente na beleza e na inocência, mas é um equívoco contextualizá-la tão friamente. A imagem que irei guardar dela (e, com certeza, mostrar para meus filhos um dia) é a última cena de “Heidi”, com a oração da menina e seu sorriso maravilhoso, pedindo pela felicidade de todas as crianças do mundo. 
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