Mestres do Universo (Masters of The Universe – 1987)
Mais uma picaretagem da dupla de produtores Menahem Golam e
Yoram Globus, desta vez mirando o imaginário coletivo infantil. Não bastou eles
terem destruído um mito mundial em “Superman 4 – Em Busca da Paz”, desta vez
atacaram o “He-Man”, que já estava em decadência como linha de brinquedos na
época da produção. Eu era criança na época em que o filme apareceu, lembro que
meu pai trouxe da locadora e eu fiquei todo empolgado para ver. O filme
simplesmente não tinha nada a ver com o desenho animado, já que o roteiro
utilizou levianamente a versão anterior do herói nos quadrinhos que vinham
encartados com os bonecos da Mattel. O roteirista David Odell tinha no seu currículo
pérolas como “Supergirl” (1984) e alguns episódios dos “Muppets”, o que nos
leva a pensar quais foram os critérios para sua seleção nesse projeto que
carregava nos ombros a responsabilidade de salvar a linha de brinquedos.
O personagem principal (vivido pelo Dolph Lundgren) não era
o príncipe Adam, era apenas o cara que havia matado o Apollo Creed e
arrebentado com o Rocky Balboa, só que mais falante e com mullets. Não tinha “Gato
Guerreiro”. Isso era muito frustrante para uma criança, como você pode imaginar.
E o pior de tudo era o vilão, que ao final retornava triunfante e afirmava: “Eu
voltarei”. Até hoje nada. Pura propaganda enganosa. Mas agora vem a informação
mais importante: Eu comprei o DVD de “Mestres do Universo”. Como eu fiz isso? A
grande realidade é que aprendi a gostar deste filho bastardo e me surpreendo
assistindo nas madrugadas insones. Mesmo que seja só pra ver a Courteney Cox
(de “Friends”) pagando mico em início de carreira.
Para os padrões medíocres da produtora, até que esse filme
não era tão ruim. Comparado ao “American Ninja 5” (de 1993), canto desafinado
do cisne “Cannon Group”, o projeto comandado por Gary Goddard (primeiro e único
como diretor... Imagine o trauma da experiência) é surpreendentemente
interessante. O talentoso Frank Langella, interpretando “Esqueleto”, consegue impor
uma presença marcante e ser mais carismático que o próprio protagonista, cujas
falas tiveram que ser regravadas repetidas vezes na pós-produção, já que
ninguém entendia o que o inexperiente (não ter vocação também é um fator) Dolph
Lundgren murmurava. Já a bela Meg Foster levou muito a sério (talvez até
demais) sua caracterização como “Maligna”, aquela boneca que eu achava que
tinha vindo com defeito por ter a pele amarela, inspirando-se em Lady Macbeth.
Shakespeare se sentiu ofendido, tenho certeza. E o que dizer do Gorpo, que foi
substituído por um parente do anão Willow (aquele da Terra da Magia)? Mas o
maior problema é o desfecho, onde após todo um suspense razoavelmente
interessante, culminando no clássico bordão do herói e o choque das lâminas,
termina sendo encaminhado para uma disputa visivelmente mal coreografada. A
questão era que os produtores avisaram o diretor, no dia da filmagem da grande
batalha, que havia acabado a verba e que era pra ele finalizar tudo o mais rápido
possível. A equipe técnica, que já estava com pagamentos atrasados, teve que
ser incentivada pelo bravo diretor a elaborar uma forma de filmar o combate de
forma rápida e barata. Os esforços resultaram em um absurdo blecaute e uma
disputa tão empolgante quanto um filme do Terrence Malick.
Mas analisando com carinho, existem pontos positivos. A
trilha sonora de Bill Conti é muito boa, a trama é simpática (ainda que seja um
plágio dos quadrinhos dos “Novos Deuses”, de Jack Kirby) e o trabalho de
dublagem nacional feito pela “BKS” é excelente. Garcia Júnior é um grande ator,
coisa que Lundgren nunca foi. O sempre competente Isaac Bardavid como “Esqueleto”,
além de Cecília Lemes (Courteney Cox), Eleu Salvador (Billy Barty) e Helena
Samara (Christina Pickles), entre outros talentos dessa Arte.
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