Um jovem que nunca envelhecerá e que tornou sua imagem um
símbolo de seus ideais em vida. Uma morte física que apenas afirmou sua real
imortalidade. Um gênio em sua arte, disciplinado, justo, veloz como o raio e, ao
mesmo tempo, frágil e humilde. O nome pelo qual o mundo o conheceu: Bruce Lee.
“Ninguém pode fazê-lo sentir-se inferior sem o seu consentimento”.
Muitos procuram debater sobre quem era melhor lutador. Todos
têm seus méritos e deméritos, mas vejo a perfeição em apenas um.
Enquanto Jet Li possui ótimas lutas muito bem coreografadas, sinto uma tremenda
falta de empatia com o público. Como ator ele não me convence, sempre sisudo.
Diferente de Jackie Chan, que consegue atuar muito bem, mesmo nas mais
incríveis peripécias acrobáticas. Extremamente simpático, talvez até demais, falta a ele o ar de superioridade que outros possuem. Sonny Chiba é muito
técnico, mas falta carisma. Jean-Claude Van Damme tem carisma de sobra,
mas pouca técnica. Steven Seagal não possui muito carisma, nem sabe expressar
bem para a câmera sua técnica, talvez por isso esteja utilizando-a tão pouco em
seus últimos trabalhos.
“Covarde não é aquele que evita um combate, covarde é aquele
que mesmo sabendo que é superior, luta e fere o mais fraco”.
Bruce Lee não era apenas um lutador, mas também um filósofo.
Sendo um ótimo ator, conseguia traduzir em seu rosto, nos movimentos corporais
e em seus famosos gritos, toda a emoção da luta. Além de atuar, roteirizava e
dirigia. Infelizmente não teve tempo de trabalhar mais esses dois elementos,
mas deixou incompleto o que poderia ter se tornado o filme símbolo do gênero. Não aquele horrendo arremedo chamado: “Jogo da Morte”, que os
gananciosos produtores americanos inventaram de fazer após a sua morte,
utilizando cenas gravadas e truques baratos e ofensivos para tentar ocultar o
dublê que estava presente a maior parte do tempo. Falo da ideia original de Lee, onde
ele viveria um campeão de artes marciais aposentado, que entrava em confronto com
gangues coreanas do submundo. Ele descobre a existência de uma torre, onde as armas
de fogo não são permitidas. Guardada em cada nível por um representante de
algum estilo de luta. Sua missão é chegar ao topo dela e resgatar seus
irmãos que são mantidos reféns.
“Se você acreditar que uma coisa é impossível, você a
tornará impossível”.
A intenção de Lee era clara, abominar o uso de armas de fogo
e demonstrar fraquezas inerentes a cada um dos estilos de artes marciais,
superando-os com sua técnica, uma mistura de todas as artes, de maneira fluida.
Isso ia de encontro a todos os princípios ditados pelos mestres. Ele sempre
foi uma pedra no sapato desses dignitários, que o acusavam de ensinar os
segredos milenares para qualquer um, de qualquer raça ou credo. Ele os
respondia dizendo que as religiões e as variadas artes marciais deveriam servir
para unir os povos, não segregá-los. Ateu assumido, Lee acreditava apenas no
seu aprimoramento físico e intelectual.
“Conhecimento dá poder, mas só o caráter granjeia respeito”.
Em seus filmes podemos assistir ele destruindo toda uma
classe de alunos faixa-preta com extrema habilidade. Mas o momento que melhor
expressa sua real intenção está presente na batalha final de “O Voo do Dragão”
(The Way of the Dragon – 1973), quando após uma longa e exaustiva luta com seu
adversário, vivido por Chuck Norris, Lee se ajoelha perante o corpo tombado
dele e ora em respeitoso silêncio. Era seu roteiro e sua direção. Diferente de
todos os outros astros do gênero, que sempre acabam com o vilão com soar de
trombetas ao final e, se possível, jogando-os no moedor de carne mais próximo,
Lee demonstrou respeito e admiração por seu oponente. Sua força não residia nos
punhos, mas sim em seu caráter.
“Seja como a água que abre caminho através das pedras: não
se oponha ao obstáculo; contorne-o”.
Até hoje se discute os mistérios que circundam sua morte,
alguns afirmam que ele foi assassinado pela Yakuza, teoria que tomou mais força
após a lamentável morte acidental de seu filho Brandon Lee nas gravações do
filme “O Corvo”, quando foi atingido por uma bala que deveria ter sido de
festim. Que tinha muita gente invejosa querendo sua morte, não tenho dúvida. Seu desejo de propagar as artes marciais para todos, sem preconceitos, ia de
encontro a muitos poderes influentes na área, isso sem falar no seu
posicionamento público a favor do desarmamento, o que para a indústria militar era algo que certamente lhes tirava o sono, devido ao forte apelo
popular do astro. Mas, acima de tudo isso, eu prefiro lembrar-me de como ele
viveu.
“Aquele que não sabe, e pensa que sabe. Ele é tolo. Evite-o!
Aquele que sabe e não sabe que sabe. Ele está adormecido. Desperte-o!
Aquele que sabe e não admite o que sabe. Ele é humilde. Guie-o!
Aquele que sabe e sabe que sabe. Ele é sábio. Siga-o!”
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