Jogador Número 1 (Ready Player One - 2018)
O livro original escrito por Ernest Cline, que também assina
o roteiro, junto com Zak Penn, é puramente divertido, conectado com os anseios
da juventude geek, mas possui muitos problemas, entretenimento leve que é
esquecido pouco tempo depois de finalizada a última página.
A história ambientada em 2045 se passa parte em Columbus,
Ohio, e parte no mundo virtual do jogo OASIS. O jovem Wade (Tye Sheridan), órfão
e sonhador, dedica sua vida a procurar o easter egg criado pelo idealizador deste
mundo virtual, James (Mark Rylance em atuação exagerada), que irá conceder o
controle do jogo, além de uma considerável fortuna. Ele vislumbra na realidade
fantástica a satisfação imediatista que o cotidiano nunca seria capaz de
entregar. A crítica é atual, a sociedade vive mentiras confortáveis em busca de
um prazer ilusório, o povo opta conscientemente pelo constante estado de
anestesia geral.
O primeiro desafio do diretor Steven Spielberg em “Jogador
número 1” (Ready player 1) foi se reencontrar com seu senso criativo
despretensioso, após vários projetos narrativamente densos e, na maior parte
das vezes, frios. A experiência recente com a animação “O bom gigante amigo” foi
frustrante e a última aventura de Indiana Jones, lançada dez anos atrás, mostrou
que a mágica se perdeu.
O segundo desafio foi evitar que a trama intensamente
dependente da nostalgia de quem viveu a cultura pop das décadas de oitenta e
noventa se tornasse enfadonha para o público geral. Se você não identifica as
várias referências presentes nas cenas, ou constata que estas não justificam o
seu investimento emocional, o único elemento que resta é o inegável espetáculo
técnico, o show de luzes que não falha em entreter.
O longa apresenta obstáculos. Alguns clichês desgastados,
como a rasa e quase sempre desnecessária subtrama romântica que apenas prejudica
o ritmo, os diálogos absurdamente expositivos, além do fraco desenvolvimento dos
arcos dos personagens, reduzem o escopo do filme à simples passatempo,
facilmente substituível por qualquer produção de super-heróis, robôs e monstros
que a indústria despeja semanalmente nas salas.
Apesar destes problemas, vale destacar que é surpreendente
perceber que o mestre Spielberg retomou com extrema competência a energia de
seus primeiros projetos, aquele brilho no olhar do garoto que tomou o mundo de
assalto com “Tubarão”.
* Crítica publicada no Caderno B do "Jornal do Brasil" (29/03/18).
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