quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Sobre o Carnaval em tempos de crise


Reflexão breve enquanto o país está em estado de coma. O Rio de Janeiro está quebrado, a cidade passa por uma crise monumental, os professores e policiais continuam recebendo atrasado um salário de miséria, protestos violentos a torto e a direito, regiões sem saneamento básico, insegurança nas ruas atingindo níveis de zona de guerra, pacientes morrendo nos corredores dos hospitais, logo, uma infinidade de motivos para que o cidadão carioca viva plenamente a folia carnavalesca.

É usual escutar a expressão: "O ano no Brasil só começa depois do Carnaval". Será que você já parou para pensar em como esta constatação é incrivelmente vergonhosa? O deselegante contumaz que sorri diante do abismo, aquele que não é pontual, que enforca o feriadão e só pensa em tirar vantagem, segue a mesma cartilha canalha do político que é alvo de sua metralhadora verborrágica nas redes sociais. A mudança não depende do governo, a salvação não virá do alto, os adultos estão infantilizados colocando a responsabilidade nos ombros de supostos heróis, enquanto seguem letargicamente a incansável procissão dos bobos alegres. Acredite, não há sistema político podre que sobreviva em uma sociedade lúcida. É a atitude do indivíduo que importa, a forma como ele reage em situações de crise.

Não demonizo a celebração tradicional, longe disso, somente incito o questionamento sobre a importância de acusar a dor do açoite como sinal de desconforto. Há uma corrente argumentativa que defende o valor turístico do evento. Os cassinos de Las Vegas transformaram o deserto em um paraíso. Caso o polpudo investimento anual no Carnaval gerasse algum legado importante para o país, ao invés de constarmos frequentemente nos últimos lugares das estatísticas mais deprimentes, nós hoje seríamos o Japão, a Suécia, a Alemanha, ou a Finlândia. Será que os povos destes países festejariam em tempos de crise extrema em todos os níveis?

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