O Voo do Dragão (Meng Long Guo Jiang - 1972)
Único filme roteirizado e dirigido por Bruce Lee, produzido pelos estúdios Golden Harvest e por sua própria Concord, fundada com Raymond Chow no ano anterior. É curioso perceber que ele dedicou os primeiros vinte minutos à sua faceta menos reconhecível, da chegada do personagem em Roma, até o seu primeiro encontro com os funcionários do restaurante do tio que pedem sua ajuda contra os mafiosos liderados pelo hilário efeminado vivido por Ngai Ping-ngo, o roteiro se resume a sequências episódicas de humor, quase todas sem diálogos, opção eficiente e corajosa, com direito a momentos encantadoramente constrangedores, o lado humano e frágil do astro que seria imortalizado pela figura mítica do guerreiro indestrutível. É uma pena que Lee não tenha tido tempo para evoluir como roteirista/diretor, este primeiro trabalho comprova que seu talento não se resumia à eficácia impressionante de sua técnica marcial, ou seu carisma matador, o jovem tinha estofo cultural/filosófico, consciência cênica e um senso de humor muito espirituoso. O grande momento, a luta final contra Chuck Norris no Coliseu, não é reconhecida como o melhor momento do gênero no cinema à toa, tudo nela é épico e simbologicamente profundo. A execução da cena foi complicada, porque eles não tinham permissão para filmagem no local, eles precisaram de três longos dias para completar a sequência, a equipe recebia ameaças constantes, mas ninguém se atreveu a desafiar o chefe. O que me emociona mais no filme é a forma respeitosa com que o protagonista dedica segundos preciosos para honrar o inimigo abatido, algo que diz muito sobre o caráter de Bruce Lee. Em qualquer filme do gênero, o vilão é arremessado no moedor de carne mais próximo, mas o jovem dragão faz questão de pegar o kimono dele no chão, voltar até o corpo e depositar o manto sobre ele com uma oração silenciosa. A honra do artista marcial nunca foi tão bem demonstrada no cinema.
A Vingança do Dragão (Xiao Quan Guai Zhao - 1979)
A trama não traz surpresas, um jovem do interior treina com seu avô (James Tien), um grande
mestre, o segredo do tradicional Kung-Fu. Contra a vontade do mestre ele passa a
lutar por dinheiro, para ajudar em casa. Até que um velho inimigo (Yam Sai-kwoon), líder de uma facção
criminosa, mata o avô e faz crescer no jovem o desejo de vingança, em suma, a mesma história de quase todos os filmes do gênero. A beleza da obra não reside neste ponto. Em seu primeiro trabalho como diretor, com total controle criativo, Jackie Chan demonstra a razão que o fez se destacar, dentre tantos imitadores de Bruce Lee que a indústria asiática produziu no período, como o único elemento puramente original. As suas influências estão presentes, Buster Keaton e Os Três Patetas, o produtor Lo Wei sabiamente deu carta branca para que o jovem testasse todas as possibilidades, inclusive correndo riscos. Jackie exibe várias facetas de sua arte, timing cômico preciso, pastelão infantil, coreografias plasticamente bonitas, ou puramente agressivas, sobrando espaço para sequências hilárias como aquela em que ele se disfarça de mulher para enfrentar seu adversário, ou quando disputa com seu mestre a posse de um simples pedaço de carne em seu hashi. O combate final é fantástico, com Jackie utilizando o "Kung-Fu emocional", criado por ele, que utiliza variações como alegria, dor, tristeza e euforia, para confundir o inimigo e impedir que seus golpes sejam previsíveis. Apesar de ser mais lembrado por "The Drunken Master", ou "Snake in The Eagle's Shadow", ambos de 1978, eu considero que "The Fearless Hyena" (A Vingança do Dragão) é o seu melhor momento da fase inicial de carreira, quando estava no auge da forma física e com sangue nos olhos para firmar seu nome no panteão das artes marciais.
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