Assassinato no Expresso do Oriente (Murder on the Orient
Express – 2017)
Apesar de ser reconhecida, de forma justa, como a rainha da
literatura detetivesca, poucos livros de Agatha Christie resistem em revisão. Ao
contrário do Sherlock Holmes de Conan Doyle, a diversão está na tentativa de
elucidar o mistério, você dificilmente terá interesse em reler o livro após a
solução. Eu destaco apenas duas exceções: “Testemunha de Acusação” e “Assassinato
no Expresso do Oriente”, por conseguinte, as tramas que melhor funcionaram no
cinema.
Dito isto, não é justo comparar o projeto de Kenneth Branagh com a
versão de 1974, que teve roteiro de Paul Dehn e a direção do espetacular Sidney
Lumet, além de um elenco verdadeiramente magistral. É um produto que vem com a
proposta de agradar ao público adolescente, logo, o contexto é indisfarçavelmente
raso, a recorrente piadinha óbvia com o nome do protagonista é um exemplo, a
personalidade excêntrica do detetive belga Hercule Poirot é exagerada em tintas
caricaturais, o roteiro providencia oportunidades para que seu humor irônico
tome lugar de destaque, caminhando por vezes na linha tênue entre o adorável e
o irritante. Branagh entende o espírito desta versão e acerta o tom na
interpretação, a sua presença compensa boa parte dos problemas encontrados no
irregular primeiro ato. O espaço cênico reduzido pode ser uma bênção ou uma
maldição. Com exceção de Johnny Depp e a sempre competente Judi Dench, apesar
de subutilizada desta vez, o elenco não demonstra segurança e o texto que defendem não
fornece momentos especiais para que o público invista emocionalmente em suas
histórias individuais.
A direção tem boas ideias estéticas, como a utilização
do reflexo nas portas de vidro nas sequências de interrogatório para insinuar verdades
ocultas, a fotografia de Haris Zambarloukos faz uso inteligente das sombras no
trem, o figurino e a reconstituição de época são impecáveis, mas há também uma
frieza na abordagem que prejudica a imersão e enfraquece o senso de diversão,
especialmente para aqueles que já conhecem o desfecho, já que o roteiro prima
pela fidelidade ao material original.
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