sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

"Assassinato no Expresso do Oriente", de Kenneth Branagh


Assassinato no Expresso do Oriente (Murder on the Orient Express – 2017)
Apesar de ser reconhecida, de forma justa, como a rainha da literatura detetivesca, poucos livros de Agatha Christie resistem em revisão. Ao contrário do Sherlock Holmes de Conan Doyle, a diversão está na tentativa de elucidar o mistério, você dificilmente terá interesse em reler o livro após a solução. Eu destaco apenas duas exceções: “Testemunha de Acusação” e “Assassinato no Expresso do Oriente”, por conseguinte, as tramas que melhor funcionaram no cinema. 

Dito isto, não é justo comparar o projeto de Kenneth Branagh com a versão de 1974, que teve roteiro de Paul Dehn e a direção do espetacular Sidney Lumet, além de um elenco verdadeiramente magistral. É um produto que vem com a proposta de agradar ao público adolescente, logo, o contexto é indisfarçavelmente raso, a recorrente piadinha óbvia com o nome do protagonista é um exemplo, a personalidade excêntrica do detetive belga Hercule Poirot é exagerada em tintas caricaturais, o roteiro providencia oportunidades para que seu humor irônico tome lugar de destaque, caminhando por vezes na linha tênue entre o adorável e o irritante. Branagh entende o espírito desta versão e acerta o tom na interpretação, a sua presença compensa boa parte dos problemas encontrados no irregular primeiro ato. O espaço cênico reduzido pode ser uma bênção ou uma maldição. Com exceção de Johnny Depp e a sempre competente Judi Dench, apesar de subutilizada desta vez, o elenco não demonstra segurança e o texto que defendem não fornece momentos especiais para que o público invista emocionalmente em suas histórias individuais.

A direção tem boas ideias estéticas, como a utilização do reflexo nas portas de vidro nas sequências de interrogatório para insinuar verdades ocultas, a fotografia de Haris Zambarloukos faz uso inteligente das sombras no trem, o figurino e a reconstituição de época são impecáveis, mas há também uma frieza na abordagem que prejudica a imersão e enfraquece o senso de diversão, especialmente para aqueles que já conhecem o desfecho, já que o roteiro prima pela fidelidade ao material original. 

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