Como se Tornar o Pior Aluno da Escola (2017)
O roteiro escrito por André Catarinacho e Danilo Gentili é bom
no gênero, as piadas funcionam, a montagem é esperta e entende o público-alvo, mas
há algo que incomoda e prejudica o resultado, o problema não é raro no cinema
nacional, a atuação do elenco não está afinada no mesmo diapasão, existem personagens
que se mostram mais caricatos, outros adotam tom mais natural, além de alguns
que simplesmente não atuam bem, o que acaba formando um conjunto irregular que
distrai a atenção do espectador em algumas sequências. Com esta ressalva, vale
destacar a importância da nossa indústria abraçar vertentes diferentes dentro
da comédia, a (extrema) ousadia temática politicamente incorreta de “Como se
Tornar o Pior Aluno da Escola”, especialmente nos dias de hoje, deve ser
aplaudida. Arte é escapismo, aqueles que criticam, por exemplo, a celebração do
bullying no filme, com o perdão da expressão, são apenas imbecis. E digo isto
como alguém que sofreu na infância e adolescência com violência física e
psicológica e escreveu um livro abordando o assunto.
A trama capta com exatidão a essência nonsense e debochada do
cinema adolescente dos anos oitenta, aquela época maravilhosa em que o
estudante chegava em casa, jogava a mochila no sofá e ligava a televisão para
ver “Primavera na Pele”, ou “Férias do Barulho” no vespertino “Cinema em Casa”
do SBT. Exatamente por este motivo é tão agradável reencontrar o eterno Quico
de “Chaves”, Carlos Villagrán, vivendo o diretor da escola. Eu destaco também a
presença sempre competente de Moacyr Franco, mestre do minimalismo brilhante,
vivendo um faxineiro rebelde. Ótima ideia trazer de volta Joana Fomm, grande
atriz que merecia ter tido participação mais expressiva na tela grande em sua
carreira. E também é curioso ver Rogério Skylab, músico exótico especialista em
subverter e chocar, vivendo um professor de História relativamente sisudo e
cleptomaníaco, boa sacada. Os jovens protagonistas, Bruno Munhoz e Daniel
Pimentel, apesar de não terem experiência na área, transmitem segurança e ótimo
senso de timing cômico. Danilo Gentili não é ator, mas utiliza sua experiência como
comediante nos palcos para injetar generosa dose de carisma ao viver uma
espécie de versão adulta e mais cínica do Ferris Bueller, de “Curtindo a Vida
Adoidado”, desencantado com a vida e que se torna o mentor da dupla.
Um aspecto interessante que engrandece a obra é propor a
discussão sobre o conceito equivocado que escraviza o indivíduo, desde muito
novo, ao reducionismo existencial que busca notas altas e incentiva um comportamento
padronizado. Se você não se sente confortável no molde, logo, você é excluído. Um
sistema educacional que valoriza a memorização, ao invés do real aprendizado. Na
sequência em que o personagem de Gentili ensina que o certo é rasgar livros, a
professora está indicando a leitura de “Iracema”, clássico de José de Alencar.
A crítica é certeira, não há nada pior que inserir (com o acréscimo terrível da
obrigação) no currículo escolar de pré-adolescentes tomos pensados para leitores
adultos. Não é a maneira mais inteligente de incentivar o hábito precioso da
leitura.
A reflexão é fundamental, vivemos em um país com índices vergonhosamente
baixos em educação. Talvez ser o “pior aluno” em um sistema inegavelmente falido
pode representar alguns passos na direção certa.
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