Polícia Federal: A Lei é Para Todos (2017)
“O sistema é feito para não funcionar”. A frase dita por um
dos investigadores do filme sintetiza a coragem do roteiro em apontar que não
há heróis na política, não há lógica em defender pessoas claramente envolvidas
em falcatruas, figuras que enriquecem enquanto o povo que os colocou no poder
luta para sobreviver chafurdando na lama, nem mesmo a desculpa da genuína ideologia
pode ser sustentada. Já está claro que “esquerda” e “direita” neste país roubam da mesma
forma, a resposta não está em partidos, a esperança reside em indivíduos
íntegros. É questão de caráter, nunca deposite sua confiança em líderes que não
compartilham os mesmos serviços que o coletivo de pessoas responsáveis por sua
posição social. A nossa sociedade está muito longe da realidade de outras
nações verdadeiramente dignas e corretas.
A utilização
da narração em off como fio condutor da trama é um ponto negativo, o recurso
quase sempre tenta disfarçar um roteiro frágil, prejudica a imersão e, neste
caso específico, busca preencher lacunas que deveriam ter sido resolvidas no
primeiro ato, para que o investimento emocional do espectador no desfecho não
dependesse de um conhecimento prévio dos acontecimentos retratados. O filme
precisa funcionar sem muletas, precisa ser atemporal. Outro momento que
considero desnecessário é aquele em que o grupo de investigadores festeja ao
som de “Inútil”, do Ultraje a Rigor, a sequência é clichê, destoa do clima que
havia sido estabelecido e não soa coerente na construção dos personagens
envolvidos. Fora isto, não há grandes problemas. A introdução em quadrinhos é
muito boa como ideia e execução, traçando a corrupção desde o encontro de
Cabral com os índios. A atuação do elenco afinada no mesmo diapasão é louvável,
algo que era raro, mas que melhorou muito nos últimos anos. Vale destacar a
forma inteligente com que os alívios cômicos são trabalhados, especialmente a construção
do personagem do doleiro Youssef (Roberto Birindelli) em cenas como aquela em
que ele debocha da forma física do delegado vivido por Antonio Calloni,
culminando mais tarde na sua desconstrução ao ser questionado na cadeia pelo
motivo de não fazer piada com a chegada de Odebrecht (Leonardo Medeiros).
Eu gostei do ritmo e, com as ressalvas apontadas acima, considero um importante passo no gênero de thriller político, vertente poucas vezes trabalhada no cinema nacional. Qualquer tentativa da nossa indústria de se aventurar fora da zona de conforto narrativa deve ser incentivada.
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