Uma comédia sobre ciúme, vingança e infidelidade entre
insetos, metáfora espirituosa para a hipocrisia da sociedade dirigida por Wladyslaw
Starewicz, um dos mais criativos mestres pioneiros do stop-motion, quase sempre
esquecido, que faz uso generoso de metalinguagem em uma abordagem adulta dos
temas.
Entr'Acte (1924)
Antes de Germaine Durlac abraçar o surrealismo no cinema em “The
Seashell and the Clergyman”, René Clair revolucionou a utilização do tema e
ousou na montagem provocadora anti-militarista neste clássico dadaísta. O filme
nasceu a partir do convite do pintor Francis Picabia e do músico Erik Satie,
que queriam um entreato cinematográfico para o balé Relâche. A cada interlúdio
da apresentação, o curta era projetado.
Como um romance de Émile Zola, o média-metragem retrata a
vida urbana parisiense do começo do século XX. Duas irmãs abandonam a vida no
campo e partem para a cidade grande após testemunharem o assassinato dos pais. O
diretor Dimitri Kirsanoff consegue realizar uma perfeita fusão entre o impressionismo
francês, o surrealismo de vanguarda, a montagem soviética e o melodrama de
Hollywood, sem a utilização de intertítulos, opção audaciosa.
A diretora Germaine Dulac esforçou-se para procurar na ação
do roteiro de Antonin Artaud os pontos harmônicos, ligando-os entre si por
ritmos estudados e compostos. A temática do desejo sexual reprimido em um padre
foi bastante corajosa para a época. Vale ressaltar que a obra foi lançada anos
antes daquele que viria a ser reconhecido como o grande marco surrealista, “Um Cão Andaluz”, de Buñuel.
Este curta dirigido por Robert Florey e Slavko Vorkapich,
que bebe generosamente na fonte do expressionismo alemão, conta a história de
um homem que vai para Hollywood para se tornar uma estrela, apenas para falhar
e ser desumanizado no processo. É impressionante como o conceito e a execução
envelheceram bem, não parece um trabalho produzido na década de 20.
Um casal tem menos de 45 minutos para atravessar de motocicleta mais de 70
quilômetros. Não sabem que a própria morte fará o mesmo trajeto. Propaganda
sobre os perigos da alta velocidade no trânsito dirigida pelo mestre Carl Theodor
Dreyer, uma aula de edição que ainda hoje provoca tensão no espectador. O
cinema de ação bebeu muito desta fonte.
* Aviso: Cenas muito fortes de violência animal *
Um dos primeiros exemplos de ultra-realismo, dirigido por Georges Franju, que faria anos depois a obra-prima do terror psicológico: "Os Olhos Sem Rosto". Este filme
contrasta a tranquila e bucólica vida na periferia de Paris do pós-guerra com a
dura e ensanguentada condição de dentro dos matadouros. É perturbador como
poucos, especialmente quando analisado no contexto da época, uma crítica ao
silêncio do povo alemão durante o extermínio em massa dos judeus.
Quatro minutos intensos de experimentalismo surrealista,
resultado da união criativa entre o diretor Jorgen Roos e o pintor Wilhelm
Freddie. Um pesadelo inesquecível e impossível de ser sintetizado, que certamente
foi referência para os trabalhos iniciais de David Lynch e David Cronenberg.
Colcha de retalhos experimental em que o diretor Bruce
Conner reuniu fragmentos de cenas tiradas de filmes B, arquivos de cinejornais,
pornografia leve, entre outras fontes, emoldurados musicalmente por “Pines of
Rome”, de Respighi. Crítica irônica à capacidade de o cinema construir mentiras
e simplificar tragédias, espetacularizando qualquer tema com objetivos
financeiros.
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