Eu tenho uma teoria que pode parecer pessimista, mas
considero válida. O cinema estava caminhando para seu fim na década de
cinquenta, acabaria se tornando uma opção irrelevante de entretenimento. Os
grandes estúdios dominavam a indústria, os diretores eram peões suportáveis na
equação, caso o produtor considerasse necessário, o comando do filme trocaria
de mãos da noite para o dia, o nome que assinava não importava.
Na era de ouro, sem competição alguma, as salas escuras eram
o ponto de encontro da alta sociedade, famílias vestiam seus melhores trajes e
planejavam com antecedência a grande noite. Os cinejornais, transmitidos antes
das sessões, agregavam dinamismo e emoção audiovisual às notícias. Nem mesmo a guerra
e a crise financeira conseguiam abalar esta arte, porque nos momentos mais
difíceis, quando o indivíduo se vê sem perspectiva de vida, ele busca
inspiração na fantasia, ele esquece dos problemas naquele par de horas
recostado na poltrona.
O cinema se torna eficiente ferramenta de propaganda contra
Hitler, exaltando o patriotismo, a linguagem já havia evoluído com o
aperfeiçoamento do som e estava abrindo novas possibilidades com as cores.
Aqueles artistas que não souberam se adaptar ficaram pelo caminho, muitos
afirmavam que o som havia sido o ponto final naquela história. O que eles
diriam da televisão?
Agora as famílias podiam desfrutar de todo tipo de
entretenimento no sofá de suas casas, o aparelho revolucionou o conceito de
diversão. O forte dos produtores de cinema não era a criatividade, eles estavam
acostumados a pagar profissionais para pensar e executar as ideias. Artifícios
foram criados na tentativa de atrair público, como o 3D, prometendo incrível
imersão, ou o Smell-O-Vision, que fazia o espectador sentir os aromas de
elementos selecionados na tela grande, mas nada disso alterava a qualidade do
material exibido.
As bilheterias sofreram um profundo golpe quando a televisão
passou a oferecer aventuras no Velho Oeste, comédias e romances adocicados,
gêneros populares. Os produtores então deram sinal verde para tramas nos únicos
gêneros que ainda não tinham encontrado espaço na tela pequena, o terror e o
sci-fi. Neste período, grandes astros respeitados viveram bruxas, adoradores do
demônio, vampiros, babás malévolas, toda sorte de personagens sombrios.
Foi também a época dos suntuosos épicos bíblicos, pensados
para o gigantesco CinemaScope, tecnologia de filmagem e projeção criada em
1953, como oposição imbatível para a televisão. Só que o desgaste do tema nos
anos seguintes, aliado à pouca qualidade na maioria dos roteiros, culminou no
fracasso retumbante de “Cleópatra” em 1963, que quase levou a FOX à falência.
Se continuasse neste rumo, o fim seria questão de tempo.
Quem salvou o cinema? Os jovens críticos europeus da
“Cahiers du Cinéma”. Nos textos deles, o diretor tinha papel de destaque, até
mesmo nas produções menos pretensiosas. Ele era o autor da obra. Hitchcock, aos
olhos de François Truffaut, era um mestre. O cineasta inglês só foi respeitado
mundialmente após este aval. Chabrol, Godard, Rivette, Rohmer, entre outros,
rapazes apaixonados que não se satisfazendo com a teoria, encontraram na
prática suas identidades artísticas.
A valorização do diretor como autor foi o estopim para movimentos
cinematograficamente libertários no mundo todo, os grandes magnatas dos
estúdios foram substituídos por jovens ousados, como Martin Scorsese, Steven
Spielberg, Francis Ford Coppola, George Lucas, Arthur Penn, Robert Altman,
William Friedkin, Monte Hellman, John Cassavetes, Samuel Fuller, Brian de
Palma, entre tantos outros, representantes da chamada “Nova Hollywood”. O que
me conduz para os dias de hoje. Creio que vivemos mais um momento de crise
criativa.
Os adultos estão abandonando o cinema, já que grande parte
dos roteiros são pensados para satisfazer o imediatismo adolescente. O
artifício do 3D, que veio ganhando espaço nos últimos anos, quase sempre
subutilizado, já não empolga, além de encarecer o ingresso. Os épicos bíblicos
de hoje, as adaptações de quadrinhos, já começam a mostrar sinais de desgaste.
A “novidade” agora é fazer versões em preto e branco de lançamentos ainda
frescos. A coragem, em estilo e substância, parece estar nas mãos dos
roteiristas de séries televisivas.
Quem vai salvar o cinema desta vez?
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