A Fúria dos Justos (Trial - 1955)
Um tesouro que precisa ser garimpado, nunca lembrado quando
se escreve sobre os filmes de tribunais, “A Fúria dos Justos” é dos melhores no
tema já feitos, incrivelmente atual no cenário político brasileiro. O projeto
chamou atenção à época por ter sido o primeiro a ter um juiz negro, vivido por
Juano Hernandez.
Inspirado no caso conhecido como “Sleepy lagoon murder”, que
chocou a opinião pública na Califórnia de 1942, o roteiro brilhante de Don
Mankiewicz não força suspense algum sobre a inocência do adolescente mexicano
acusado de homicídio, o espectador sabe desde o início, assim como seu advogado
de defesa, interpretado por Glenn Ford, que o rapaz não matou a menina
norte-americana na praia. Ela tinha sérios problemas cardíacos, os dois estavam
namorando, o júri não teria dificuldade em agir com sensatez. O problema é que
o homem que contratou o advogado não está interessado em liberar o garoto, ele
quer um mártir para seu discurso comunista. O personagem, vivido por Arthur
Kennedy, realiza comícios festivos para, supostamente, angariar recursos para
os custos legais, quando, na realidade, faz fortuna para o partido com a mesma
lábia torpe dos pastores neopentecostais, chega até a converter a mãe da
vítima, vivida por Kathy Jurado, utilizando o show como plataforma política.
É interessante analisar a cena do julgamento, quando Barney
(Kennedy), ao sentir que está perdendo terreno, passa a tentar de todas as
formas desestruturar o ambiente, provocando o juiz com insinuações racistas, a
estratégia comunista de incitar a guerra, dividir para conquistar, cortina de
fumaça na intenção de prolongar o anúncio do veredito o máximo possível. David
(Ford), um professor de direito que abraça a causa por senso de ética e amor à
justiça, percebe rapidamente a espetacularização promovida pelo seu colega e se
revolta, com plena consciência de que está colocando tudo a perder. Sem prática
nos tribunais, inserido no esquema para não prejudicar os planos nefastos do
seu superior, ele vai provar que não há força que subjugue um caráter íntegro.
* O filme está sendo lançado em DVD, com opção de dublagem em português, pela distribuidora "Classicline".
Nenhum comentário:
Postar um comentário