Os Verdes Anos (1963)
O cineasta português Paulo Rocha faleceu aos setenta e sete
anos no dia 29 de dezembro de 2012, após um acidente
vascular cerebral. Deixando para trás uma carreira estável como advogado, o
jovem preferiu seguir seu sonho e absorver a arte dos franceses, em especial
Jean Renoir, de quem foi assistente, voltando para seu país disposto a
redefinir o cinema que lá era feito. Nas décadas anteriores, o povo português
abraçava o humor simples das comédias de Vasco Santana, enquanto que filmes
mais pretensiosos, quase sempre medianos, como “Saltimbancos”, que Manuel
Guimarães lançou em 1951, falhavam em estabelecer conexão com seu público. No início dos anos
sessenta, influenciados pelo neo-realismo italiano e pela nouvelle vague
francesa, diretores como Fernando Lopes, do média-metragem: “Belarmino”, José
Ernesto de Sousa, de “Dom Roberto” e Paulo Rocha, abriram novas possibilidades
para o cinema português.
Levando suas câmeras para as ruas de Lisboa, sem medo de
expor os contrastes sociais, ele filmou seu primeiro trabalho: “Os Verdes
Anos”, contando de forma simples a relação entre um jovem (Rui Gomes) ingênuo recém-chegado do interior e uma empregada doméstica (Isabel Ruth) da cidade grande. O roteiro, em pouco tempo, estabelece eficientemente a essência
de cada personagem. O garoto inseguro que se defende dizendo: “Um homem sem
dinheiro é como um carro sem gasolina”, ou que se intimida no salão de dança ao
som de um rockabilly. A menina deslumbrada que desfila para ele, trajando os
vários vestidos de sua patroa. Salvo por um americano de uma briga com seu tio
(Paulo Renato) em um bar, o garoto caminha pelas ruas
acompanhado de seu novo amigo, sem que nenhum dos dois entenda o que está sendo
dito pelo outro, o americano afirma em dado momento: “Não entendo uma palavra
do que diz, mas estou inclinado a concordar”, traduzindo de forma brilhante o
conflito do rapaz com a hipocrisia da cidade e de seu povo, numa crítica
bem-humorada e ainda atual. Ao final, como em uma das variações da canção
“Construção”, de Chico Buarque, a simbólica morte da sua juventude ingênua e
interiorana, acarretada por uma decisão intempestiva e inconsequente, acabou atrapalhando o tráfego.
O tema e a condução podem ter envelhecido de forma pouco
generosa, mas a sua trilha sonora, composta pelo genial e saudoso guitarrista
Carlos Paredes, que respondeu ao convite do diretor e identificou-se com o
tema, resiste bravamente, emocionando como sempre. Um filme que precisa ser garimpado pelo cinéfilo brasileiro dedicado.
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