quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

"De Volta ao Jogo" de Chad Stahelski e David Leitch


De Volta ao Jogo (John Wick - 2014)
É comum afirmar que os gêneros fantásticos, ficção científica e terror, são desprezados por aqueles tontos pseudointelectuais que só conseguem enxergar beleza nos dramas umbilicais e obscuros. Mas eu creio que os filmes de ação sofrem ainda mais, ignorados por essa parcela do público e subestimados pela crítica especializada. Se a obra não traz nada de novo, ela é apedrejada. Se inova, ela é apedrejada. “De Volta ao Jogo”, com seu orçamento mediano, conseguiu entregar algumas das sequências mais espetaculares, mérito dos diretores Chad Stahelski e David Leitch, estreantes na função, porém, com tremenda experiência na indústria como coordenadores de dublês. Chad trabalha como dublê de Keanu Reeves desde “Caçadores de Emoção”, companheirismo que resultou na compreensão exata de como utilizar da maneira mais visualmente impactante os recursos do ator, que nunca foi conhecido por sua versatilidade.

Ele vive John Wick, o assassino profissional tido como o melhor por seus colegas, que abandona o serviço motivado pelo amor que sente por sua esposa. Uma doença interrompe a relação, ele está presente no hospital quando a frágil mulher expira, nada pode reverter aquela situação, o profissional temido por todos se sente pela primeira vez impotente. Ela, consciente que seu amado não saberia lidar com aquela dor, havia organizado a entrega póstuma de um presente incomum, uma cadelinha filhote. Se o Ford Mustang na garagem, precioso emocionalmente para ele, representava os perigos da sua área de atividade, o animal era a garantia de que a humanidade dele estaria em constante vigilância, o último desejo de Helen, a aposentadoria definitiva. Um grupo liderado pelo filho de um mafioso invade sua casa à noite, rouba o carro e mata a cadelinha, tomando violentamente de Wick todos os elementos que o mantinham na coleira social, o reforço do leitmotiv animalesco subjugando um coletivo criminoso organizado que se julga civilizado.

A trama de vingança é saborosamente simples, as várias cenas de ação surpreendem pela crua objetividade estética, não há intenção de disfarçar com montagem frenética e movimentos de câmera epiléticos a pouca competência técnica, todos os envolvidos são especialistas talentosos, experimentando diversas possibilidades, do tiroteio comum em pequena e larga escala, passando por perseguições de carros e combate corpo a corpo. As coreografias são pensadas com o intuito do choque visual, afinal, trata-se do atrito entre mercenários selvagens que operam além da margem de seus próprios superiores. Os movimentos precisam ser rápidos, certeiros e brutais. O roteiro de Derek Kolstad estabelece inteligentemente a complexidade do universo em que o protagonista está inserido, sem especificar com diálogos expositivos a origem dos relacionamentos, estimulando no espectador a sensação de que está bisbilhotando perigosamente uma realidade que sequer imaginava que existia. A presença de nomes renomados como Willem Dafoe, Ian McShane e Michael Nyqvist, ajuda a reforçar os alicerces dessa construção.

“De Volta ao Jogo” é um dos melhores filmes de ação da década.

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