Heróis Esquecidos (The Roaring Twenties - 1939)
Eddie Bartlett (James Cagney) é um veterano de guerra
desempregado que se torna contrabandista de bebidas, trocando as batalhas por
garrafas. Enquanto cresce seu império, Eddie enfrenta ameaças externas e
internas, confrontos de gangues e traições.
Lançado em uma época onde a censura do Código Hays afetava
tremendamente qualquer projeto sobre o tema dos gângsteres, “Heróis Esquecidos”
teve sua história original, escrita por Mark Hellinger, transformada pelo brilhante
diretor Raoul Walsh em um épico de contornos românticos que, devido à
utilização frequente de jornais cinematográficos como recurso narrativo, servia
também como recorte histórico de uma conturbada década, um início espetacular
em sua parceria com os estúdios Warner. O herói de guerra que retorna para uma
nação que o rejeita e se vê forçado a fazer dinheiro ilícito no submundo, até
ter seu reinado interrompido brutalmente pela crise de 1929, uma visão
romanceada do gângster como vítima do sistema, algo mais palatável para os
censores. A sua ruína começa ao traçar como meta o amor de uma adolescente que
sonha em ser cantora, vivida por Priscilla Lane, a satisfação de um capricho
que vai conduzir ele ao trágico desfecho nos degraus da igreja.
James Cagney,
que somente voltaria ao tipo em “Fúria Sanguinária”, dez anos depois, ajudou no
roteiro que era retrabalhado por Walsh, os diálogos eram modificados nos dias
de filmagem, tamanha a cumplicidade que se formou entre os dois profissionais. O
relacionamento estabelecido na sequência inicial entre os personagens de
Cagney, Humphrey Bogart e Jeffrey Lynn, três soldados atirando contra um
inimigo que o espectador não enxerga, ferramenta que propositalmente nega a
empatia e reforça a estupidez do conflito, remete ao clássico de guerra: “O
Grande Desfile”, de 1925, em um extremo oposto no tratamento da morte do
inimigo. É interessante comparar o incendiário final de “Fúria Sanguinária”,
onde o personagem de Cagney se mantém orgulhoso em sua ilusão de grandeza diante
da morte certa, com o melancólico final de Bartlett, lutando pra se manter de
pé após o tiro nas costas, com a expressão no rosto de quem percebeu tardiamente
que o crime não compensa, com sua figura no enquadramento remetendo à Pietà, de
Michelangelo, amparado pela devoção materna de uma dona de bar, seres em extinção na nova sociedade que se principia no horizonte. O mesmo
diretor, o mesmo ator, dez anos de diferença.
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