sábado, 17 de setembro de 2016

Faces do Medo - Serial Killers


Confissões de Um Necrófilo (Deranged - 1974)
Um homem que vive na parte rural de Wisconsin cuida de sua mãe que é muito dominadora e ensina que todas as mulheres são más. Depois que ela morre, ele sente muita a falta dela. A partir da morte dela, ele começa a fazer as coisas mais escabrosas que se pode imaginar. Estreitamente baseado na história verídica de Ed Gein.

Ao contrário de “O Massacre da Serra Elétrica”, o irmão mais famoso lançado posteriormente no mesmo ano, “Deranged”, dirigido por Jeff Gillen e Alan Ormsby, opta por uma abordagem mais documental sobre Ed Gein, com as frequentes interrupções de um personagem repórter falando diretamente para o público, um recurso que prejudica a imersão e a construção do suspense, aquele clima de pesadelo que a obra de Tobe Hooper dominou com perfeição. Mas a atuação de Roberts Blossom, rica em maneirismos repetitivos perturbadores, compensa qualquer problema. Ele consegue transmitir um misto de insegurança quase infantilizada e doentia loucura. Os efeitos de Tom Savini, estreando no cinema, já demonstram a competência que o mundo iria aplaudir alguns anos mais tarde, com destaque para uma impressionante cena envolvendo uma colher e um cérebro exposto em um crânio aberto. Não creio que a indústria hoje tenha coragem de detalhar o macabro de forma tão direta, a utilização do humor em certos momentos deixa o que é bizarro ainda mais repulsivo. Você termina a sessão e sente vontade de tomar banho, o que é um tremendo mérito em uma obra do gênero.


Henry - Retrato de Um Assassino (Henry: Portrait of a Serial Killer - 1986)
Henry é um rapaz que vive com seu ex-colega de prisão e sofre de distúrbio que o leva a matar pessoas de formas bárbaras. Quando o colega e sua irmã, que também sofrem de perturbações psicológicas, descobrem seus feitos, são atraídos pela violência, mas ao mesmo tempo se tornam vítimas em potencial.

Já citei o “Guia de Vídeo - Terror”, lançado pela Editora Escala no início dos anos noventa, escrito pelo Guilherme de Martino, em alguns textos sobre meus anos de garimpo adolescente nas locadoras de vídeo. “Henry”, dirigido por John McNaughton, era uma das pérolas indicadas pelo livro que eu não conseguia encontrar em lugar algum, para um apaixonado por terror aquele filme parecia ser praticamente o Necronomicon aberto, relia milhões de vezes o trecho sobre ele, eu cheguei a sonhar com sequências imaginárias, mas o VHS eu nunca vi, somente fui entrar em contato com o filme no início da era da internet. Alguns anos mais tarde li sobre a vida do verdadeiro Henry Lee Lucas, eu fiquei sem dormir, recomendo que assistam ao ótimo documentário que vem na caixa, não há horror na literatura e no cinema que supere a vida real. O roteiro não chega nem perto de retratar os aspectos mais grotescos de seus assassinatos, mas, ainda assim, perturba o espectador pela crueza com que aborda o cotidiano do protagonista, um relato realista quase documental, elemento realçado pela fotografia suja, com o orçamento irrisório ajudando a compor uma pegada snuff altamente coerente com o tema. Michael Rooker, vivendo Henry, está possuído pelo capiroto, os seus olhares arrepiam mais do que as cenas que mostram as consequências de seus atos. A ausência de qualquer personagem moralmente correto estabelece um tom depressivo raras vezes alcançado em produções do gênero. Lançado em um período onde a indústria norte-americana estava dominada pelos slashers, McNaughton insere um subtexto de crítica à violência como entretenimento. 


Lua de Mel de Assassinos (The Honeymoon Killers - 1969)
Baseado na história verídica de Raymond Fernandez e Martha Beck, que se encontram por correspondência. Ray é invasor, selvagem e não confiável​​; Martha é enorme, compulsiva e necessitada. Juntos, começam a atrair mulheres para roubá-las e matá-las.

O diretor/roteirista Leonard Kastle, que também era compositor de ópera, fez apenas um filme em sua carreira, substituindo Scorsese, com dinheiro de pinga e sérios problemas técnicos, mas esse único projeto foi muito elogiado por François Truffaut, que chegou a afirmar que era o seu filme norte-americano favorito, sem falar que serviu como óbvia inspiração tonal e temática nos trabalhos iniciais de John Waters e Brian De Palma, então eu creio que ele cumpriu com louvor sua missão na sétima arte. Sem se debruçar na violência gráfica, a câmera adota enquadramentos desconcertantes nas cenas de assassinato, o que não é visto se torna mais terrível na mente do público, o olhar da vítima que percebe que será atacada pode ser mais apavorante que a encenação do ataque, com o preto e branco reforçando a antinaturalidade na abordagem inteligentemente inconsequente.


O Estrangulador de Rillington Place (10 Rillington Place - 1971)
Londres, 1949. John Christie é um despretensioso homem de meia idade que, juntamente com sua esposa Ethel, administra o prédio de apartamentos em 10 Rillington Place. Seu despretensioso comportamento oculta o fato de ser um serial killer. Usa da sua formação médica, para atrair mulheres inocentes para seu apartamento com o pretexto de curá-las de alguma doença, então estrangula suas vítimas antes de enterrá-las em seu quintal.

Poucos filmes funcionam tão bem como crítica à pena de morte, o caso real foi o motivador da abolição ocorrida no Reino Unido em 1965. Dirigido por Richard Fleischer no início da década de setenta, construindo um suspense matador sem apelar para violência gráfica, protagonizado pelo sempre competente John Hurt e um impecável Richard Attenborough, transmitindo um senso de perigo apavorante em sua atuação contida, auxiliada pela utilização constante de claustrofóbicos ambientes fracamente iluminados. O fato do roteiro não se importar em examinar as motivações psicológicas do assassino potencializa a ameaça, somos colocados na mesma posição de ignorância das vítimas, diante da frieza banal de sua incompreensível maldade. O tom sóbrio dominante favorece a eventual exibição de violência, surpreendendo o espectador e provocando imediato desconforto. O foco está na forma como esse monstro consegue manipular todos ao seu redor para que não enxerguem o óbvio. Uma obra que merece maior reconhecimento.


O Maníaco (Maniac - 1980)
Frank Zito é um desequilibrado mental que mata inúmeras garotas brutalmente e guarda seus escalpos para adornar os inúmeros manequins que lhe fazem companhia. Até o dia em que uma mulher tira uma fotografia sua no Central Park. Trata-se da fotógrafa Anna D'Antoni, por quem Zito acaba se apaixonando. Mas será que o relacionamento conseguirá vencer sua sede de sangue?

Joe Spinell, o canastrão agiota dos dois primeiros filmes da franquia “Rocky”, roteirizou e protagonizou essa pérola do slasher embrionário, com um nível de violência acima do que seria normal no subgênero, lembrada mais pelo trabalho impecável de Tom Savini nos efeitos de maquiagem. O roteiro é simplório, a estética é amadora, a direção do fraco William Lustig é sem brilho, mas o grande mérito está no foco dado ao mundo interno de um psicopata, não há antagonista, não há pretensão alguma, apenas o interesse em entregar o maior número possível de sequências de assassinato, um terreno fértil para Savini esbanjar seu talento. A belíssima inglesa Caroline Munro, que havia sido uma Bondgirl em “007 – O Espião Que Me Amava”, três anos antes, entra na trama no segundo ato como interesse romântico do maníaco, o que não ajuda a tornar o todo mais verossímil.


* Os filmes estão sendo lançados em DVD com excelente material extra, pela distribuidora "Obras-Primas do Cinema", no digistack "Serial Killers".

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