Gatinhas e Gatões (Sixteen Candles – 1984)
John Hughes já havia demonstrado sua competência como
roteirista em “Férias Frustradas”, mas foi com seu primeiro trabalho na direção
que ele realmente despontou para o mundo como o poeta da juventude. Após ter
iniciado esse especial com sua obra mais adorada, nada mais justo que continuar
celebrando sua Arte. E para entender o impacto e relevância de Hughes, basta
analisar como eram os filmes feitos para os adolescentes nas décadas
anteriores. Com raras exceções (como “American Graffiti”, de George Lucas),
eram mostrados como caricaturas ambulantes que serviam apenas para morrer nas
mãos de assassinos mascarados ou como alívios cômicos, normalmente
representados por atores com o dobro da idade de seus personagens. Nenhuma
atenção era dada aos seus anseios e angústias, nenhum sinal de simpatia genuína
pelos jovens, sempre analisados pelo ponto de vista dos adultos. “Gatinhas e
Gatões” foi revolucionário em sua simplicidade, ousado em sua objetividade.
Enquanto o público estava acostumado a ser incentivado pelos roteiros a rir das
tolices cometidas pela garotada com ar de superioridade, Hughes se colocava ao
lado dos jovens, fazendo com que gargalhássemos com eles, não deles. A identificação
era imediata, fazendo-nos crer que não estávamos sozinhos nesse turbilhão de intensas
emoções e insegurança chamado “juventude”.
Quando o filme passava na “Sessão da Tarde”, os garotos da
escola não comentavam no dia seguinte. Era “filme de meninas”. Anos depois é
que acabei assistindo do início ao fim. Lembro que adorava o personagem do Anthony
Michael Hall (The Geek), mas não conseguia me identificar com ele. Sua forma
extrovertida de arriscar flertes com praticamente todas as colegas de classe
era algo que eu invejava. O garoto era um fracasso, mas não podia ser culpado
por não tentar. Samantha (Ringwald, com dezesseis anos na época das filmagens)
hipnotiza o público desde suas primeiras cenas. A sua reação ao constatar que
seus pais haviam se esquecido de seu aniversário é impagável e nos cativa
imediatamente. Ela é o coração do filme, o elemento que equilibra os extremos
do absurdo cômico e da austeridade dramática.
O roteiro também acerta ao retratar com fidelidade a
atmosfera de uma escola, muros circundando uma ebulição de hormônios,
adolescentes tendo que conviver com diferenças e descobertas. Quem não conhece
uma história similar a do garoto que ostenta a calcinha de uma colega de classe
perante outros rapazes, como forma de mostrar que não é mais virgem? É
exatamente o tipo de situação que ocorre nesse período conturbado e fascinante.
Ainda assim, diferente do que podia ser visto em similares da época, o sexo não
era o foco do roteiro, como pode ser percebido na forma como Hughes subverte as
expectativas em uma cena protagonizada por Hall e Molly Ringwald, em uma
tentativa desastrada de sedução no carro, que culmina em uma séria discussão
que revela a solidão e a carência emocional de ambos. No posterior “Clube dos
Cinco”, o diretor aperfeiçoaria o conceito com excelência.
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